Dono da JBS, foi à Venezuela pedir a renúncia de Maduro, diz agência

Segundo a Bloomberg, funcionários de Trump sabiam da viagem de Joesley Batista a Caracas

Joesley Batista, coproprietário da J&F e da JBS, voou a Caracas em 23 de novembro para se reunir com Nicolás Maduro e tentar convencê‑lo a renunciar ao cargo de presidente da Venezuela, atendendo a um pedido direto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A viagem, mantida em sigilo até ser revelada pela agência Bloomberg em 3 de dezembro, ocorreu dias depois de uma ligação em que Trump deu a Maduro um ultimato: deixar o poder até 28 de novembro, aceitar o exílio com a família em país de sua escolha e abrir caminho para uma transição pacífica.

Quando foi e como Joesley chegou a Caracas

Dados do site de rastreamento ADS‑B Exchange mostram que o jato Bombardier Global 7500 usado por Joesley decolou de São Paulo à meia‑noite de domingo, 23 de novembro, e pousou em Caracas na manhã do mesmo dia.

Fontes ouvidas pela Bloomberg afirmam que, já em Caracas, o empresário teve um encontro reservado com Maduro naquele domingo, dois dias depois da ligação com Trump, em um esforço de “diplomacia paralela” para reforçar a pressão norte‑americana sem envolvimento formal de diplomatas.

O que Trump queria e o que Maduro pediu

Segundo essas fontes, Trump pediu na ligação que Maduro deixasse a Venezuela com a família até 28 de novembro e se instalasse em outro país, sob condição de renúncia e compromisso de não voltar ao poder.

Maduro teria respondido que só aceitaria sair se obtivesse anistia judicial total — inclusive arquivamento das acusações criminais em cortes dos EUA e no Tribunal Penal Internacional —, além da remoção completa das sanções econômicas impostas a seu governo, exigências que Washington não aceitou.

O que se sabe sobre a conversa Joesley–Maduro

Relatos obtidos pela Bloomberg indicam que Joesley repetiu a Maduro a proposta de transição pacífica colocada por Trump, insistindo que a renúncia poderia evitar uma escalada militar após meses de operações navais dos EUA no Caribe contra barcos suspeitos de tráfico de drogas.

O empresário teria argumentado que aceitar o acordo seria uma forma de preservar sua segurança e de reduzir o isolamento internacional de aliados do chavismo, em vez de enfrentar novas sanções e a ameaça de ataques em solo venezuelano, algo que Trump voltou a mencionar publicamente em eventos recentes na Casa Branca.

Em discurso a apoiadores nesta segunda-feira (1º), Maduro declarou “lealdade absoluta” ao povo venezuelano. Segundo três fontes ouvidas pela Reuters, ele pediu uma nova ligação com Trump.

Ainda não está claro se Maduro ainda pode apresentar uma nova proposta de saída da Venezuela. Segundo um alto funcionário americano, Trump se reuniu nesta segunda-feira com conselheiros para discutir a pressão sobre o país.

Uma fonte do governo dos EUA informada sobre as discussões internas não descartou um acordo para a saída de Maduro, mas disse que ainda há divergências.

O que dizem J&F, Washington e Caracas

A administração Trump sabia dos planos de Joesley e via na iniciativa uma maneira de reforçar a mensagem enviada por Trump a Maduro, mas fontes do governo sublinharam à Bloomberg que ele não foi nomeado emissário oficial dos EUA.

Em nota à imprensa, a J&F limitou‑se a afirmar que “Joesley Batista não é representante de nenhum governo” e disse que não comentaria o teor de encontros privados do empresário, enquanto o Ministério da Informação venezuelano e o gabinete de Maduro não responderam a questionamentos de veículos brasileiros e internacionais sobre a visita.

Por que Joesley virou intermediário

Análises publicadas por veículos brasileiros lembram que Joesley tem histórico de negócios bilionários tanto com os EUA quanto com a Venezuela, o que o coloca em posição singular para falar com os dois lados.

De um lado, a JBS — via Pilgrim’s Pride — foi uma das maiores doadoras corporativas ao comitê de posse de Trump em 2017 e depende fortemente do mercado norte‑americano de carnes; de outro, a empresa já fechou contratos estimados em mais de US$ 2 bilhões para fornecer alimentos ao governo venezuelano em programas de subsídio durante a crise.

O empresário também se reuniu com Trump no início de 2025 para discutir tarifas sobre a carne brasileira, o que reforçou sua imagem, na avaliação de fontes ouvidas pela Bloomberg, como um “elo discreto” entre o governo Trump e o regime de Maduro.

O que permanece em aberto

Até agora, não há sinal de que Maduro esteja disposto a renunciar: o prazo do ultimato de Trump expirou em 28 de novembro sem qualquer anúncio concreto de transição.

Os EUA, por sua vez, ampliaram para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à prisão do líder venezuelano e mantêm ofertas de US$ 25 milhões por outros altos dirigentes do chavismo acusados de narcotráfico, o que torna incerta qualquer saída negociada que envolva anistia ampla.

Resta saber se Joesley voltará a intermediar conversas ou se sua viagem acabará registrada apenas como um episódio singular de diplomacia empresarial na disputa de poder em torno da Venezuela.


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