Nova Estratégia de Segurança Nacional de Trump coloca a América Latina no centro da disputa por recursos, migração e poder militar dos EUA, com promessa de “atualizar a Doutrina Monroe” e expandir a influência de Washington sobre vizinhos do hemisfério
Um documento divulgado nesta sexta‑feira (5) mostra a nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos e marca uma guinada explícita: o governo Trump coloca o hemisfério ocidental, em especial a América Latina, no centro da política externa americana, com foco em controle de recursos, migração e presença militar.
Trump passará a focar mais na América Latina e irá se afastar de seu papel global, transferindo responsabilidades para aliados, segundo a nova estratégia de política externa.
Analistas em grandes jornais descrevem o texto como uma atualização agressiva da Doutrina Monroe, com a Casa Branca falando em “engajamento e expansão” da influência sobre vizinhos e tratando o continente como prioridade maior que Europa e partes da Ásia.

O que o texto oficial diz
A Estratégia dedica um espaço incomum à América Latina e ao Caribe, algo que documentos anteriores privilegiavam muito menos.
O texto afirma que os EUA devem “aprofundar seus relacionamentos com governos na América Latina, inclusive trabalhando com eles para identificar recursos estratégicos”, referência direta a minerais críticos e cadeias de energia, e promete “parcerias mais estreitas com o setor privado para promover oportunidades de aquisição e investimento estratégicos para empresas americanas na região”.
Migração, drogas e presença militar
A nova linha amarra segurança interna e política hemisférica: o documento prevê “uma presença mais adequada da Guarda Costeira e da Marinha para controlar rotas marítimas, impedir migração ilegal e outras formas indesejadas de migração, reduzir o tráfico de pessoas e de drogas e controlar rotas de trânsito em situações de crise”.
Em outra passagem, a estratégia diz que os EUA empregarão inclusive “força letal” contra cartéis de drogas quando considerarem necessário, sinalizando que os ataques a embarcações suspeitas de tráfico no Caribe não são medidas pontuais, mas parte de um redesenho duradouro da postura militar na região.
A volta explícita da Doutrina Monroe
Jornais americanos destacam que o texto assume, sem rodeios, uma atualização da velha política de manter potências externas longe do continente.
O documento afirma que os EUA devem “revitalizar e atualizar a Doutrina Monroe para o século XXI”, descrevendo os objetivos no hemisfério como “engajamento e expansão” e deixando claro que Washington pretende conter a presença de China, Rússia e Irã em infraestrutura, telecomunicações e cadeias de mineração na América Latina.
Críticas e riscos apontados pela imprensa
Análises em veículos como Politico, The Economist e Wall Street Journal descrevem a estratégia como “sombria” e, em alguns pontos, “incoerente”, ao combinar promessas de parceria econômica com linguagem de confrontação aberta a aliados europeus e latino‑americanos que discordem da agenda migratória de Trump.
Especialistas ouvidos por esses jornais alertam que a ênfase em tarifas, sanções e presença militar, sem contrapartida robusta em cooperação democrática e desenvolvimento, pode empurrar governos da região a buscar financiamento e proteção política justamente na China e em outros competidores que Washington diz querer afastar.
O que muda para a América Latina
Na prática, a nova estratégia sinaliza três eixos centrais para a região: disputa por recursos minerais e energéticos, endurecimento radical do controle migratório e uso ampliado de instrumentos militares e de inteligência em nome do combate ao crime transnacional.
A promessa de abrir espaço para investimentos privados dos EUA em infraestrutura e cadeias críticas na América Latina vem acompanhada da mensagem de que Washington está disposto a aceitar mais tensão diplomática e até crises com governos que não se alinhem à sua visão, reforçando a percepção, nos próprios jornais americanos, de que a “nova política para o hemisfério” pode aprofundar, e não resolver, a fragmentação regional.



