Instituições estão sem orçamento, e funcionários chegam a trabalhar sem salário após contratos de ajuda global não serem renovados pelos EUA. Situação ocorre após cortes no USAid, braço humanitário dos EUA
Os cortes no orçamento dos Estados Unidos estão afetando organizações humanitárias ao redor do mundo e no Brasil não é diferente. A Cáritas por exemplo, pode ter de parar de atender exilados venezuelanos que fogem da ditadura de Nicolás Maduro e chegam ao Brasil.
A organização existe há quase 50 anos, mas, para 2026, o futuro é incerto e há ameaça de encerramento das atividades. O impacto dos cortes da ajuda humanitária vinda dos Estados Unidos foi um baque na organização.
Aline Thuller, coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas-RJ explica que a situaçãose complicou com os cortes. .“Nunca vivemos nada parecido na história da Cáritas”, diz ela.
E até mesmo Aline, que está na Cáritas há 18 anos, está agora sem salário.
A Cáritas recebe recursos há mais de 40 anos do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e de outros projetos de financiamento menores. Os repasses de 2025 estavam negociados desde o ano anterior, mas, em fevereiro, por conta dos cortes do governo norte-americano na nova gestão Trump, a organização foi comunicada que os cortes aconteceriam já neste ano.
Ao longo dos últimos meses, a Cáritas precisou acabar com um recurso de subsistência que era dado a imigrantes que chegam ao país – um repasse para ajudar em situações emergenciais de alimentação, cuidados médicos e aluguel.
Além disso, houve um atraso no início do curso de português oferecido gratuitamente pela instituição, e parte dos funcionários da Cáritas precisou ser cortado.
De acordo com Pablo Mattos, oficial de Relações Governamentais da Acnur Brasil, os cortes a parceiros apoiados pelo Acnur, como é o caso da Cáritas, foram necessários porque a própria agência da ONU sofreu uma redução de quase 25% do orçamento anual global – consequência dos cortes americanos, mas também de outros países europeus.
Ainda de acordo com Mattos, a última vez que a agência trabalhou com um orçamento inferior a US$ 4 bilhões (cerca de R$ 21,8 bi) foi cerca de 10 anos atrás, quando o número de deslocados à força era cerca da metade dos 120 milhões que existem hoje no mundo.
“Estamos diminuindo o número de pessoal do Acnur no Brasil, incluindo Roraima, e não conseguiremos apoiar cerca de 270 mil pessoas no Brasil que precisariam de ajuda”, afirma.
Ano após ano, o mundo vem batendo recorde no número de pessoas que são forçadas a deixar suas casas por conta de desrespeito aos direitos humanos, conflitos e consequências do aquecimento global. Só neste ano, a Cáritas atendeu mais de 78 nacionalidades.
“O trabalho como o nosso está em risco de fechar, não poque a gente não é mais necessário, muito pelo contrário. Mas é porque a gente está vivendo uma crise, que é uma crise de responsabilidade. Não é só uma crise financeira.”
“O impacto é considerável e bastante negativo. Eu diria até que devastador”, afirma o oficial de Relações Governamentais do Acnur Brasil.
Ao tomar posse como presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2020, Donald Trump colocou no governo o bilionário Elon Musk.

O homem mais rico do mundo tinha como missão cortar gastos e empregos públicos – ou seja, enxugar a “máquina do Estado”, projeto de campanha que angariou muitos votos na eleição que Trump disputou contra Kamala Harris, em 2024.
Musk chefiou o Doge, sigla em inglês para “Departamento de Eficiência Governamental”. Um dos principais alvos do órgão foi a USAid – o braço humanitário dos EUA e, até então, responsável por cerca de 40% do apoio global a programas sociais.
Ao longo de 2025, houve uma série de cortes por causa das decisões de Musk. Com a virada do ano fiscal americano, que ocorreu em outubro, os últimos contratos da USAid foram finalizados e ele praticamente deixou de existir.
Na esteira dos EUA, França, Reino Unido e Alemanha cortaram parte do apoio que ia para ajuda humanitária no mundo, enquanto aumentaram seus gastos em Defesa. Não por acaso, os países estão envolvidos indiretamente na guerra da Ucrânia, apoiando com armas e aportes financeiros o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.



