PESTE SUÍNA: vírus podem ter vazado de laboratórios Laboratórios investigados na Europa

Suspeita de vazamento surgiu após o sequenciamento das amostras coletadas em javalis mortos

A Generalitat da Catalunha, que é o governo regional da comunidade autônoma catalã na Espanha, anunciou neste sábado (6) a abertura de investigação sobre cinco laboratórios na região de Barcelona, segundo o presidente regional Salvador Illa em coletiva de imprensa.

A apuração mira centros públicos e privados autorizados a manipular o vírus da peste suína africana (PSA) num raio de 20 quilômetros dos focos detectados na serra de Collserola e em Bellaterra, área metropolitana de Barcelona. Entre os alvos está o Centro de Pesquisa em Saúde Animal (CReSA/IRTA-UAB), instalado no campus da Universidade Autônoma de Barcelona, que tradicionalmente conduz estudos com o patógeno.

A suspeita de vazamento surgiu após o sequenciamento das amostras coletadas em javalis mortos indicar a presença da estirpe conhecida como “Georgia 2007”, usada em experimentos e diferente das variantes que hoje circulam em países europeus com PSA endêmica. Técnicos do Ministério da Agricultura espanhol consideraram improvável que o vírus tenha chegado à Catalunha por rotas comerciais ou por movimentação natural de animais e admitiram, em relatório, que não se descarta uma falha de contenção em laboratório.

O surto foi confirmado oficialmente no fim de novembro, quando carcaças de javalis deram positivo para PSA em Collserola, marcando o retorno da doença à Espanha três décadas após sua erradicação em 1994. Até o início de dezembro, as autoridades contabilizavam entre nove e treze javalis infectados na região metropolitana de Barcelona, sem registro de casos em suínos domésticos.

Mesmo restrito à fauna silvestre, o episódio acendeu o alerta na principal região produtora de suínos do país, responsável por parte relevante da oferta de carne suína da União Europeia. O governo catalão instituiu zonas de proteção e vigilância, restringiu o trânsito de animais e produtos e acionou unidades militares para reforçar a busca de carcaças, a desinfecção de áreas de risco e o bloqueio de acessos às zonas afetadas.

A estratégia de contenção inclui o abate sanitário de cerca de 30 mil suínos saudáveis em granjas situadas dentro do perímetro mais próximo dos focos, além do monitoramento intensivo de aproximadamente 80 mil animais distribuídos em 55 propriedades da região. Embora clinicamente sadios, esses rebanhos foram considerados vulneráveis ao contato indireto com o vírus presente em javalis e no ambiente.

O impacto econômico começou a aparecer rapidamente. Exportações espanholas de carne suína, avaliadas em torno de 8,8 bilhões de euros por ano, passaram a enfrentar suspensões e revisões de protocolo por parte de vários mercados importadores. No mercado interno, cotações de suínos de abate e leitões em praças de referência recuaram, pressionadas pela incerteza sanitária e por relatos de cancelamento de pedidos em frigoríficos catalães.

Para tentar blindar a imagem do setor, o Ministério da Agricultura e a Generalitat repetem que a peste suína africana não oferece risco à saúde humana e que a carne de animais de rebanhos controlados continua segura para consumo. A prioridade, segundo as autoridades, é evitar que o vírus salte dos javalis para as granjas comerciais e, ao mesmo tempo, esclarecer rapidamente se houve erro humano ou falha técnica em algum dos laboratórios investigados.

A investigação em curso prevê auditorias presenciais, revisão de registros de biossegurança, conferência de inventário de amostras virais e análise de eventuais incidentes de contenção nos meses anteriores ao surto. Se a hipótese de vazamento se confirmar, o caso deve reacender o debate sobre o controle de instalações de alto risco na Europa e sobre a responsabilidade de centros de pesquisa na prevenção de acidentes com agentes que, embora não infectem humanos, têm potencial devastador sobre cadeias produtivas inteiras.