Avanço só foi menor que os de 2019/2020 e 2020/2021. Em julho deste ano, alertas somaram 1.486 km² de área, maior marca da temporada.
O acumulado de alertas de desmatamento em 2022 na Amazônia foi de 8.590 km², segundo dados divulgados nesta sexta-feira (12) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Somente no último mês de julho, a área sob alerta de desmatamento na região foi de 1.486 km² de floresta, a maior para este mesmo período.
Em decorrência das variações do clima, as estatísticas de alerta de desmatamento do Brasil sempre levam em consideração o período entre agosto de um ano e julho do ano seguinte.
Dessa forma, pesquisadores podem levar em conta todo o ciclo de chuvas e secas do bioma, além de como as queimadas e o desmatamento flutuaram dentro dos mesmos parâmetros climáticos.
De agosto de 2021 até o dia 31 julho deste ano, houve alerta de desmatamento de 8.590 km² de área da floresta, uma zona que equivale um pouco mais que o tamanho da cidade de Campo Grande (MS).
O recorde na série histórica foi entre agosto de 2019 e julho de 2020, quando 9.216 km² de alertas foram computados. Já na temporada de agosto de 2020 a julho de 2021, esse índice foi de 8.780 km², o segundo pior em 5 anos.
Para Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil, os números são bastante elevados e apontam pelo terceiro ano consecutivo o panorama do desmonte ambiental do atual governo.
“O que a gente vê agora com o fechamento do calendário de 2022 é uma forte associação ao desmonte de uma estrutura de governança e proteção territorial na Amazônia”, avalia a especialista.
Esta é maior taxa de alerta para um primeiro semestre em sete anos de medição na Amazônia Legal, região que corresponde a 59% do território brasileiro e que engloba a área de 9 estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão.
No acumulado do mês, houve queda na comparação entre julho de 2022 e 2021. No ano passado, os dados apontavam 1.497 km² de áreas com alertas de desmate. Em 2022, o total foi de 1.475 km².
Como dezembro, janeiro, fevereiro e março são meses chuvosos na maioria dos estados que englobam o bioma, as taxas de desmatamento são tipicamente menores durante esses meses.
No entanto, as taxas registradas no começo do ano se comparam aos registros da estação seca em anos onde houve maior ação contra os crimes ambientais.
Em janeiro foram 430,44 km² de área sob alerta de desmatamento. A média para o mês no período entre 2016 e 2021 é de 162 km²; a taxa atual foi 165% maior.
Já em fevereiro foram 199 km² de áreas sob alerta de desmate; a média entre 2016 e 2021 é de 135 km²: o número registrado neste ano foi 47% maior.
Estados que mais desmataram
Na temporada 2021-2022, o Pará foi novamente o estado com maior área da Amazônia Legal sob alerta de desmatamento: 3.072 km².
Em segundo lugar veio o Amazonas, com 2.292 km² sob alerta. Depois vieram Mato Grosso, com 1.433 km², e Rondônia, com 1.179 km². O Acre teve 395 km² sob alerta, Roraima, 125 km², e o Maranhão, 83 km².
Municípios com maior área de desmatamento
Ainda segundo o INPE, o Pará tem cinco dos dez municípios da Amazônia Legal que mais desmataram na temporada de 2021/2022. São eles: Altamira, São Félix do Xingu, Itaituba, Portel e Novo Progresso.
Já o Amazonas tem 3 cidades: Labrea, Apuí (recordistas de alerta na temporada) e Novo Aripuana.
Integram ainda a lista das 10 cidades com maior área de desmatamento Porto Velho (RO) e Colniza (MT).
Áreas de proteção ambiental mais ameaçadas
O Pará também lidera a lista das unidades de proteção com maior área de desmatamento na temporada de 2021-2022: dos 10 municípios da listagem, 7 ficam no estado.
Somados, a Floresta Nacional do Jamanxim, a Área de Proteção Ambiental do Tapajós e Estação Ecológica Terra do Meio, todos no Pará e que encabeçam a lista, tiveram mais de 204 km² de áreas de alerta.
Compromisso desafiador
No ano passado, durante a COP 26, o Brasil foi um dos 127 países signatários da Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra, documento que declara o comprometimento coletivo de deter e reverter a perda de florestas até 2030.
Em Glasgow, o governo brasileiro assumiu o compromisso de zerar o desmatamento ilegal em 2028, reduzindo progressivamente a prática: 15% ao ano até 2024; 40% ao ano em 2025 e em 2026; 50% em 2027; até finalmente, em 2028, desmatamento ilegal zero.
Os alertas de desmatamento foram feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).
O Deter não é o dado oficial de desmatamento, mas alerta sobre onde o problema está acontecendo. A medição oficial do desmatamento, feita pelo sistema Prodes, costuma superar os alertas sinalizados pelo Deter.