Temperatura global caminha para alta de 1,5°C. Se subir de 1,7 a 1,8°C acima dos níveis de 1850, metade da população mundial pode ser exposta a calor e umidade em níveis que ameaçam a vida
Líderes mundiais vão discutir ações para combater as mudanças climáticas na Conferência das Nações Unidas para o Clima no Egito, mais conhecida como COP27.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve comparecer ao evento, após convite do presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi.
A cúpula acontece ao fim de um ano de desastres climáticos e recordes de temperatura em diversas partes do mundo.
Entenda qual a importância da Cúpula do Clima para o futuro do planeta.
O que é a Cúpula do Clima da ONU?
As conferência das Nações Unidas para o clima são realizadas todos os anos, para que os governos fechem acordos sobre medidas para limitar o aumento da temperatura global.
Esses encontros são chamados de COPs, que significa “Conferência das Partes”. As partes são os países que assinaram o acordo climático original da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1992.
A COP27 é a 27ª reunião anual da ONU sobre clima. Acontecerá em Sharm el-Sheikh, no Egito, de 6 a 18 de novembro.
Eventos climáticos extremos ficaram mais frequentes no Brasil
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Por que as reuniões da COP são necessárias?
O planeta está aquecendo por conta das emissões produzidas pelos seres humanos, principalmente através da queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão.
A temperatura global já subiu 1,1°C e caminha para alta de 1,5°C, de acordo com os cientistas climáticos da ONU, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Se a temperatura subir de 1,7 a 1,8°C acima dos níveis de 1850, o IPCC estima que metade da população mundial pode ser exposta a calor e umidade em níveis que ameaçam a vida.
Para evitar isso, 194 países assinaram o Acordo de Paris em 2015, comprometendo-se a “realizar esforços” para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
Inundações no Paquistão este ano são um ‘alerta’ para o mundo sobre a ameaça das mudanças climáticas, segundo especialistas — Foto: BBC
Quem estará na COP27?
Mais de 200 governos estão convidados.
No entanto, alguns líderes das principais economias, incluindo o presidente russo Vladimir Putin, não devem comparecer. Mas delegados do país ainda são esperados.
Outros países, incluindo a China, não confirmaram se seus líderes participarão.
O anfitrião Egito pediu aos países que deixem suas diferenças de lado e “mostrem liderança”.
ONGs ambientais, grupos comunitários, think tanks (organizações da sociedade civil que buscam influenciar políticas públicas), empresas e grupos religiosos também participarão.
Por que a COP27 será no Egito?
Esta será a quinta vez que uma COP é realizada na África.
Os governos da região esperam chamar a atenção para os graves impactos das mudanças climáticas no continente. O IPCC afirma que a África é uma das regiões do mundo mais vulneráveis às alterações do clima.
Atualmente, estima-se que 17 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar na África Oriental — parte do continente banhada pelo Oceano Índico — por causa da seca.
No entanto, a escolha do Egito como sede gerou controvérsia.
Alguns defensores dos direitos humanos e do clima dizem que o governo egípcio os impediu de comparecer porque eles criticaram o histórico do país com relação à garantia de direitos.
O que será discutido na COP27?
Antes da reunião, os países foram convidados a apresentar planos climáticos nacionais ambiciosos. Apenas 25 países fizeram isso — até agora.
A COP27 se concentrará em três áreas principais:
- Redução de emissões;
- Ajudar os países a se prepararem e lidarem com as mudanças climáticas;
- Garantir apoio técnico e financiamento para países em desenvolvimento para essas atividades.
Algumas questões não totalmente resolvidas ou cobertas na COP26 serão retomadas:
- Financiamento de perdas e danos — dinheiro para ajudar os países a se recuperarem dos efeitos das mudanças climáticas, em vez de apenas se prepararem para isso;
- Estabelecimento de um mercado global de carbono — para precificar os efeitos das emissões em produtos e serviços globalmente;
- Reforçar os compromissos para reduzir o uso do carvão.
Haverá também dias temáticos para palestras e anúncios focados em questões como gênero, agricultura e biodiversidade.
São esperados pontos de atrito?
O financiamento tem sido um problema nas negociações sobre o clima.
Em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a doar US$ 100 bilhões (R$ 512 bilhões) por ano, até 2020, aos países em desenvolvimento para ajudá-los a reduzir as emissões e se preparar para as mudanças climáticas.
A meta foi descumprida e postergada para 2023.
Dinheiro oferecido por países desenvolvidos para combater mudanças climáticas — Foto: BBC
Mas as nações em desenvolvimento também estão pedindo pagamentos por “perdas e danos” — compensações pelos impactos climáticos enfrentados agora.
Uma opção para os pagamentos foi excluída das negociações sobre o clima de Bonn, cidade da Alemanha onde foi realizada a COP26, após resistência das nações mais ricas, que temiam ser forçadas a pagar indenizações por décadas.
A União Europeia concordou que as discussões sejam retomadas na COP27.
Os jargões
Acordo de Paris: O Acordo de Paris uniu todas as nações do mundo — pela primeira vez — em um único acordo para combater o aquecimento global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa
IPCC: O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas examina as últimas pesquisas sobre mudanças climáticas
1,5°C: Limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C — em relação ao período pré-industrial — evitará os piores impactos das mudanças climáticas, dizem os cientistas
Como saberemos se a Cúpula foi bem sucedida?
Depende a quem você perguntar.
Os países em desenvolvimento desejarão que, no mínimo, o financiamento para perdas e danos seja um item da agenda. Eles também pressionarão para ter uma data definida para começarem a receber os pagamentos.
As nações desenvolvidas buscarão mais comprometimento dos grandes países em desenvolvimento — como China, Índia, Brasil, Indonésia e África do Sul — para se afastar do carvão, o mais poluente dos combustíveis fósseis.
Há também compromissos do ano passado — sobre florestas, carvão e emissões de metano — aos quais mais países podem aderir.
No entanto, alguns cientistas acreditam que os líderes mundiais deixaram suas decisões para muito tarde, e não importa o que for acordado na COP27, não será possível restringir o aquecimento global ao limite de 1,5°C.