Cancelamentos, greve, aeroportos lotados, malas extraviadas, reclamações, constrangimentos e falta de pessoal…este é o atual cenário que ilustra o caos aéreo na Europa. Desde o final do mês passado, os viajantes europeus vêm enfrentando um verdadeiro caos no transporte aeronáutico e a tendência é ficar ainda mais complicado com o aumento exponencial de greves de colaboradores do mercado aéreo.
A pandemia causou uma grande evasão e demissão de funcionários em companhias aéreas de todo o mundo, devido às leis de isolamento social, fechamento de fronteiras e restrições de deslocamentos nos fluxos aéreos. Com a diminuição das viagens, muitos trabalhadores passaram pela redução salarial e da jornada de trabalho, o que resultou numa decrescente no quadro de funcionários das empresas. Além disso, algumas companhias e empresas aéreas passaram por intervenções estatais e processos de recuperação judicial para que pudessem sobreviver e superar os efeitos da pandemia.
Para se ter um ideia, no Brasil, nos primeiros 22 dias de isolamento social, lá em 2020, com a desaceleração de viagens e eventos e uma enorme falta de otimismo que as coisas melhorem no curto prazo, as perdas em valor de mercado das três companhias aéreas brasileiras: Gol, Latam e Azul, da CVC (maior empresa de turismo do Brasil) e da Decolar.com, ultrapassaram R$ 38 bilhões.
Mas, qual o porquê do caos aéreo na Europa?
A questão por lá é que, com a retomada das viagens corporativas e domésticas, o quadro de funcionários não acompanhou a volta gradual dos viajantes dentro dos aeroportos e aeronaves. O setor na região perdeu 2 milhões de empregos na pandemia, segundo informações do LinkedIn Notícias. Essa situação ocasionou um grande problemas para os trabalhadores deste setor. Afinal, sem pessoal para atender a alta demanda os trabalhadores acabam sobrecarregados e há muitas rotas para serem demandadas, mas sem profissionais para executa-las.
Com isso, os colaboradores vem exigindo melhores condições de trabalho, como aumento de salário e o pedido urgente de novas contratações. As greves já acontecem nos principais países europeus e consequentemente, vem causando transtornos e um completo agravamento no caos aéreo na Europa.
Como as centenas de voos cancelados e/ou atrasados, os aeroportos seguem lotados, os passageiros continuam sem notícias de como retornar para casa e os problemas de logística aumentam, como os inúmeros casos de extravio de bagagem e falta de infraestrutura para realocar a população.
Além disso, para impactar ainda mais o caos aéreo na Europa, os conflitos na Ucrânia fizeram com que acontecesse várias mudanças de rotas de voos para o sudeste asiático e para países como Austrália e Japão, por conta do fechamento do espaço aéreo da Rússia, como resposta às sanções impostas pelo ocidente. Com os desvios, os custos das viagens aumentam, fazendo com que a operacionalidade seja repensada.
Deu para entender o porquê desse transtorno generalizado em pleno verão europeu? A seguir você acompanha por dentro de alguns países que estão passando por esse caos aéreo na Europa.
Reino Unido
A British Airways está cancelando mais voos programados por essa falta de funcionários e um aumento na demanda de viagens. A companhia aérea chegou a informar que reduziria sua programação de abril a outubro em 11%, tendo dito em maio que os cortes seriam de 10%. Segundo informações do jornal Telegraph, a BA cancelou mais de 650 voos dos aeroportos de Heathrow e Gatwick, em Londres, para destinos como Espanha, Portugal e Grécia, afetando até 105.000 viajantes.
O governo britânico chegou a flexibilizar temporariamente as regras sobre os horários dos aeroportos, em junho, para permitir que as companhias aéreas criassem horários de voos realistas a fim de evitar cancelamentos de última hora devido à escassez de funcionários. Além disso, de acordo com o portal Reuters, o secretário de Transportes do Reino Unido, Grant Shapps, disse às companhias aéreas pararem de vender passagens para voos que não podem operar no mês passado.
Para complicar ainda mais a situação, funcionários de uma empresa de serviços de combustível de aviação no aeroporto de Heathrow, em Londres, um dos maiores da europa em fluxo de passageiros, votaram pela realização de uma greve sobre os salários. O que pode deixar a coisa mais complicada.
Portugal
Em Portugal, já foram mais de 130 voos cancelados só neste mês de julho, em sua maioria pela companhia TAP. Para se ter uma ideia, segundo dados da ANA, responsável pelos aeroportos portugueses, publicados pela CNN Portugal, mostram que 743 empregados foram despedidos de 2019 a 2021 –redução de 23% no quadro de funcionários.
No sábado (2 de julho), um vídeo de um brasileiro expondo as condições que estava passando para uma TV local viralizou nas redes sociais. Na ocasião, o rapaz reclamou das condições higiênicas que passava (como fedor em áreas como axilas e uso consecutivo de suas peças intimas), pela falta de logística e de informações truncadas no aeroporto. Enquanto isso, a reportagem mostrava um galpão extremamente lotado de pessoas e bagagens esperando noticias dos respectivos voos.
Espanha
No país espanhol, a greve de funcionários das companhias low cost Ryanair e EasyJet vem causando transtornos por lá também. Os sindicatos das companhias convocaram e decidiram por mais 12 dias de greve em cidades como Madrid, Málaga, Sevilha, Alicante, Valência, Barcelona, Girona, Santiago de Compostela, Ibiza e Palma de Maiorca. As Ryanair já somam cerca de 175 voos adiados e outros 15, cancelados. Já a EasyJet, só no último sábado (2) de julho, já existiam cinco cancelamentos e 52 voos com atrasos.
França
Segundo informações do Estadão, “autoridades aeronáuticas a cancelaram 14% dos voos previstos para aeroportos de Paris neste sábado (2)”. Para além dos profissionais aéreos, dezenas de voos também foram cancelados no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, devido à greve dos bombeiros, obrigando as autoridades a diminuir os fluxos de pouso e decolagem e o número de pistas em funcionamento
Outra situação neste mesmo aeroporto neste sábado (2), fez com que diversas companhias que operam por lá tiveram de restituir bagagens a passageiros de todo o mundo, devido uma falha técnica no sistema de triagem de bagagens fez com que 15 voos partissem do aeroporto sem bagagens, deixando ao menos 1.500 malas no solo.
Alemanha
Na Alemanha, o problema tem sido agravado pela falta de pessoal disponível nos aeroportos e no quadro de funcionários da empresa Lufthansa. A companhia aérea alemã vai cancelar mais 2.200 voos nos aeroportos de Frankfurt e Munique por falta de pessoal, que se somam aos 900 anunciados.