THC e CBD seriam responsáveis por redução de ansiedade, mas uso incorreto pode aumentar problema
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Lutando contra o estigma, nos últimos anos, os produtos à base de cannabis têm se tornado cada vez mais populares para tratar problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão. No entanto, ainda há muita polêmica – inclusive científica – se eles de fato funcionam.
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Um estudo brasileiro recente conduzido no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto trouxe boas indicações sobre o assunto. Realizado entre profissionais de saúde que estavam na linha de frente contra a Covid-19, o levantamento mostrou que o uso de CBD – canabidiol, substância extraída da maconha – durante 28 dias conseguiu reduzir sintomas do burnout, depressão e ansiedade entre os voluntários.
Um outro trabalho de cientistas da Washington State University, dos Estados Unidos, mostrou que o uso periódico de maconha consegue reduzir a ansiedade e o estresse a curto prazo, mas piora sensações associadas à depressão ao longo do tempo. Os voluntários eram pessoas habituadas a utilizar maconha em casa.
Efeitos no cérebro
O neurocientista Renato Malcher-Lopes, do Departamento de Ciências Fisiológicas da UnB, que realiza pesquisas sobre o uso medicinal da cannabis, explica que o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), as duas principais substâncias presentes na maconha, agem em conjunto no sistema endocanabinoide.
Apesar do nome, o sistema endocanabinoide faz parte do organismo humano e nada tem a ver com a cannabis, ele ajuda na comunicação entre as células, colaborando para conseguirmos sentir o prazer proveniente de um afago, um cafuné ou um beijo, por exemplo. A eficácia e segurança dos tratamentos contra depressão à base de cannabis estaria em algum lugar entre as percepções provocadas pelo THC e pelo CBD.
“Quando se tem um produto com concentração muito baixa de THC, os benefícios são diminuição da ansiedade e melhora no estado do humor. O excesso de THC, em contrapartida, pode aumentar a ansiedade, que, muitas vezes, é associada à depressão ”, explica Renato Malcher-Lopes.
O psiquiatra Wilson Lessa Júnior, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), esclarece que o THC tem efeito bifásico. Em doses baixas (até 7 microgramas), como encontrado nos produtos vendidos hoje no Brasil, ele age como um ansiolítico e antidepressivo, aumentando a alegria, sem oferecer efeitos psicoativos.
Porém, se a dose é extrapolada, a substância começa a agir em outras áreas que exacerbam sensações emocionais. “Se a quantidade de THC for excessiva, o sistema endocanabinoide diminui a expressão dos receptores e a pessoa passa por uma hiper sinalização, podendo potencializar quadros de ansiedade e depressão”, explica.
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Os óleos de cannabis autorizados no Brasil possuem predominantemente CBD, a concentração de THC é mínima, próxima de 0,2%. Para o neurocientista Renato Malcher-Lopes, o limitação dificulta o alcance de resultados em tratamentos contra a depressão. “O melhor que uma pessoa que tem depressão pode fazer é procurar, entre as opções disponíveis, as que têm maior concentração de THC”, sugere.
O psiquiatra Wilson Lessa Júnior, por sua vez, lembra que cerca de 30% dos pacientes com depressão não alcançam nem 50% de melhora usando o tratamento padrão com antidepressivos. Ou seja, há uma quantidade enorme de pessoas que precisa de alternativas para aliviar os sintomas da doença. “O canabidiol não é uma bala de prata, mas é uma ferramenta. Vemos que os pacientes alcançam melhora de mais de 70% com ele”, aponta o médico.
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