Líder do grupo paramilitar Wagner disse que fim da rebelião foi para evitar morte de soldados russos
O líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, se pronunciou publicamente pela primeira vez após o fim da rebelião contra o comando militar da Rússia.
Em uma mensagem de áudio no Telegram, ele afirmou que recuou para “evitar um derramamento de sangue de soldados russos”. Prigozhin também disse que a marcha em direção a Moscou, abortada após negociação com o Kremlin, não tinha o intuito de derrubar o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
“O objetivo da marcha era evitar a destruição do ‘Wagner’ e responsabilizar os funcionários que, por meio de suas ações não profissionais, cometeram um grande número de erros”, alegou o líder do grupo paramilitar Wagner.
Desde o fim da rebelião, não se sabe a localização exata de Prigozhin. No final de semana, a imprensa russa destacou que, após intervenção do presidente da Belarus, Aleksandr Lukashenko (aliado de Putin), as acusações contra Prigozhin tinham sido arquivadas e ele teria aceitado em ir para a Belarus. No entanto, ainda é incerto se Prigozhin será julgado legalmente pelo crime.
O motim dos mercenários do grupo Wagner contra o governo de Vladimir Putin acabou durando menos de 24 horas. Mas o “coquetel tóxico” de ciúme, rivalidade e ambição que deu origem ao problema vem sendo criado ao longo de meses, ou até mesmo anos.
Os personagens principais desta trama são Yevgeny Prigozhin — o fundador e líder do grupo paramilitar Wagner — e os chefes do enorme exército da Rússia — Sergei Shoigu e Valery Gerasimov.
Prigozhin — um ex-criminoso que esteve associado ao crime organizado na década de 1980 e que passou vários anos na prisão — é uma criação do Kremlin. Ele deve sua enorme fortuna ao presidente Vladimir Putin.
Desde que formou o grupo mercenário Wagner em 2014, ele se tornou uma ferramenta-chave do desejo de Putin de reimpor a influência russa em todo o mundo.
Das sombras, seus combatentes — formados por ex-militares das forças especiais russas — apoiaram o aliado de Putin, Bashar Al-Assad, na Síria e ajudaram a reverter e substituir a influência francesa no Mali.
Até o ano passado, Prigozhin negou que controlasse o grupo, chegando a processar no Reino Unido o jornalista Elliot Higgins, do site investigativo Bellingcat, que o acusou de comandar a milícia privada.
A facilidade do governo de se distanciar das operações mais polêmicas do grupo Wagner agradava Putin, permitiu que Prigozhin construísse sua própria base de poder ao longo do último ano, chegando a rivalizar com a elite militar que governa a Rússia.
Um homem imerso em violência, corrupção e ambição — sua ascensão é emblemática do Estado construído pelo presidente Vladimir Putin nos últimos 24 anos.
Mas, apesar de seu crescente poder, ele continua sendo um estranho entre o pequeno círculo íntimo de conselheiros de Putin, sem medo de criticar autoridades de Moscou que ele vê como corruptas, preguiçosas ou ambas as coisas.
E ele guarda um ódio especial ao chefe das Forças Armadas, Valery Gerasimov, e ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu — outro “outsider”.