Ataque foi reação ao aumento de ataques do Iêmem a navios no mar vermelho
Os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram ataques aéreos contra os rebeldes houthis que dominam o Iêmen, durante a madrugada de sexta-feira (12), pelo horário local.
Nas últimas semanas, os houthis intensificaram ataques contra os navios comerciais que passam pelo Mar Vermelho em protesto à guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O ataque de sexta-feira (12) dos EUA e do Reino Unido à organização iemenita foi o primeiro desde que os rebeldes começaram a atacar navios comerciais.
A operação aconteceu um dia após o grupo rebelde realizar o maior ataque nas rotas comerciais do Mar Vermelho desde 19 de novembro. As forças britânicas e norte-americanas conseguiram abater os 21 drones e mísseis lançados pela organização, afirmaram as autoridades.
Os houthis têm fortes ligações com o Irã e ampliaram sua influência no Mar Vermelho
A organização surgiu em 1990 para combater o governo do então presidente Ali Abdullah Saleh. Liderados por Houssein al Houthi, os primeiros integrantes do grupo eram do norte do Iêmen e faziam parte de uma minoria muçulmana xiita do país, os zaiditas.
Os houthis ganharam força ao longo dos anos, principalmente após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003. Clamando frases como “Morte aos Estados Unidos”, “Morte a Israel”, “Maldição sobre os judeus” e “Vitória ao Islã”, o grupo não demorou para se declarar parte do “eixo da resistência” liderado pelo Irã contra Israel e o Ocidente.
A guerra do Iêmen começou quando os houthis saíram do norte do país e tomaram a capital, Sanaa, em 2014, forçando o governo reconhecido internacionalmente a fugir para o sul e depois para o exílio.
A Arábia Saudita entrou na guerra em 2015, liderando uma coalizão militar com os Emirados Árabes Unidos e outras nações árabes. O grupo, apoiado pelos Estados Unidos, realizou uma campanha de bombardeios destrutivos e apoia as forças governamentais e as milícias no sul do território iemenita.
Com o passar do tempo, o conflito se tornou uma guerra indireta entre Arábia Saudita e Irã e seus respectivos apoiadores. Por exemplo, de acordo com um relatório publicado em janeiro de 2023, armas fornecidas pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos e usadas pela coalizão mataram dezenas de pessoas no conflito.
Há anos, nenhum dos lados obtém ganhos territoriais: enquanto os houthis mantêm seu controle sobre o norte, Sanaa, e grande parte do oeste densamente povoado, o governo e as milícias controlam o sul e o leste, incluindo as principais áreas centrais, onde estão a maior parte das reservas de petróleo iemenitas.
Um cessar-fogo que tecnicamente terminou há mais de um ano ainda está sendo amplamente respeitado. Nos últimos meses, os lados realizaram algumas trocas de prisioneiros e chegaram até a conversar sobre uma possível trégua. Ainda assim, oficialmente, ainda não há paz na região.
A guerra no Iêmen é classificada pela ONU como o mais grave desastre humanitário da atualidade, com deslocamento interno de mais de 4,5 milhões de pessoas e 80% da população vivendo na pobreza. Os mais afetados são as crianças: cerca de 11 milhões de crianças vivem em situação desesperadora e precisam de ajuda humanitária, segundo as Nações Unidas.
Desde novembro, os rebeldes realizam ataques contra navios que passam pelo Mar Vermelho em protesto à guerra de Israel contra o Hamas, um de seus aliados, na Faixa de Gaza. Em dezembro, por exemplo, uma embarcação norueguesa foi atacada por um míssil, na costa do Iêmen.
O grupo prometeu continuar os ataques até que Israel interrompa o conflito em Gaza e alertaram que atacariam navios de guerra dos EUA se o próprio grupo de milícia fosse alvo.
O Mar Vermelho é um canal entre a Península Arábica e o continente africano — em um ponto, no Estreito de Babelmândebe, a distância entre os dois continentes é de apenas 30 quilômetros de mar. O Iêmen fica em uma das pontas do estreito.
É lá que fica o Canal de Suez, a principal conexão entre a Ásia e a Europa, e o caminho marítimo que inclui o Mar Vermelho e o canal é importante para cadeias de suprimento de produtos em todo o mundo. A Agência de Energia dos Estados Unidos (EIA, por sua sigla em inglês) afirma que o local é “essencial para a segurança energética global” e no abastecimento de matérias-primas e mercadoria.
Cerca de 50 embarcações passam por lá todos os dias carregando os mais diversos produtos. Aproximadamente 10% dos bens comercializados no mundo atravessam essa passagem, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
O canal permite que os navios economizem 9 mil quilômetros, de acordo com o World Maritime Transport Council (WSC), instituição que representa as principais empresas de transporte marítimo de carga.