Filho do ex-presidente e instrutor de tiro foram indiciados pelos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e lavagem de dinheiro
A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu um inquérito sobre os crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e lavagem de dinheiro contra o filho “zero quatro” do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro.
Ao final da investigação a policia indiciou Jair Renan Bolsonaro e Maciel Alves de Carvalho. Maciel é ex-instrutor de tiro de Jair Renan.
Com base no indiciamento da Polícia Civil do DF, caberá ao Ministério Público decidir se oferece ou não denúncia à Justiça, pedindoque os dois se tornem réus.
O relatório com o indiciamento foi no âmbito do mesmo inquérito em que Jair Renan foi alvo de uma operação de busca e apreensão em 24 de agosto do ano passado, junto com Carvalho e outros dois investigados.
A Operação Nexum foi conduzida pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) da Polícia Civil do DF.
Segundo o relatório da investigação, enviado à Justiça do DF, Jair Renan e Maciel Alves falsificaram quatro relações de faturamento da empresa RB Eventos e Mídia, à época pertencente ao filho do ex-presidente. A fraude foi feita para apontar um faturamento que nunca existiu na empresa — de R$ 4,6 milhões no período de um ano, entre 2021 e 2022.
Com esses números falsos, Jair Renan e Maciel Alves buscavam lastro para um empréstimo bancário.
“Não há dúvidas de que as duas declarações de faturamento apresentadas ao banco são falsas, por diversos aspectos, tanto material, em razão das falsas assinaturas do Técnico em Contabilidade […], que foi reinquirido e negou veementemente ter feito as rubricas, quanto ideológico, na medida em que o representante legal da empresa RB Eventos e Mídia fez inserir nos documentos particulares informações inverídicas consistentes nos falaciosos faturamentos anuais”, afirma a polícia.
O empréstimo original era de R$ 157 mil. Posteriormente, o valor foi aumentado por meio de dois novos empréstimos. O último empréstimo não foi quitado, segundo a investigação.
Dinheiro foi usado para pagamento de fatura do cartão
Jair Renan teria se beneficiado de parte dos valores obtidos de forma ilícita, segundo a polícia, por meio do pagamento da fatura do cartão de crédito de sua empresa, no valor de cerca de R$ 60 mil.
Conforme demonstram as provas documentais e testemunhais, os suspeitos atuaram reiteradamente, sobrepondo um empréstimo ao outro, obtendo vantagem ilícita valendo-se da mesma maneira de execução”, relata a polícia.
“O relatório de afastamento de sigilo bancário […] demonstra que no curto espaço de tempo, a empresa RB Eventos e Mídia obteve novo empréstimo bancário, no valor de R$ 250.669,65, no dia 08/03/2023, e ainda veio a obter terceiro empréstimo bancário no valor de R$ 291.470,49, no dia 01/06/2023”, continua o relatório policial.
Em dezembro de 2023, a dívida com o banco estava em R$ 360.241,11, de acordo com a investigação.
Jair Renan afirmou em depoimento à polícia que não reconhecia suas assinaturas nas declarações de faturamento supostamente falsas. Peritos, no entanto, atestaram que em um dos documentos a assinatura do filho do ex-presidente é autêntica.
A investigação aponta indícios de que Jair Renan teve “atuação direta” na fraude. Segundo a Polícia Civil, ele foi pessoalmente à agência, “desempenhando a tarefa imprescindível de abertura da conta bancária de sua empresa, beneficiando-se economicamente do proveito criminoso porvir”.
Além disso, a polícia afirmou que o banco apresentou provas de que Jair Renan autorizou a efetivação do empréstimo por meio de sua biometria.
A polícia afirma ainda que o crime de lavagem de dinheiro ficou configurado pela forma como o dinheiro do empréstimo chegou aos suspeitos, passando antes por contas ligadas a um “laranja”, Antônio Amâncio Alves Mandarrari, que a polícia afirma ser uma pessoa “fictícia”.
O relatório da investigação diz que a quebra de sigilo bancário “demonstra que o ‘laranja’ realiza uma série de transações e movimentações diversas, para sucessivas pessoas (físicas e jurídicas) integrantes do esquema […] As movimentações da conta do alvo Antônio Amâncio giram, praticamente, em torno de recebimentos e envios para os investigados”.
Também levantou suspeitas da polícia o fato de que a empresa RB Eventos e Mídia foi “doada” por Jair Renan a outro investigado, Marcos Aurélio Rodrigues dos Santos, em 13 de março de 2023, data em que o “zero quatro” deixa o quadro societário.
O relatório da investigação sustenta, por fim, que Jair Renan e Maciel Carvalho também praticaram o crime de estelionato. No entanto, os suspeitos não são indiciados por esse crime porque, por enquanto, o banco não fez representação criminal contra os acusados.