Quem é coronel do Exército, assessor na CLDF que foi alvo de operação que prendeu Braga Netto por tramar golpe

Flávio Peregrino Botelho tem longo histórico de parceria com Braga Netto

O coronel da reserva Flávio Botelho Peregrino também foi alvo na manhã deste sábado (14), em Brasília, de buscas da Polícia Federal em investigação que apura tentativa de golpe de Estado em 2022 que levou pela primeira vez, na história do Brasil, um general 4 estrelas para prisão.

PF apontou participação de Peregrino em plano para golpe de Estado e para atrapalhar investigações;

Além de Peregrino, a operação também teve como alvo o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Walter Souza Braga Netto, que está preso preventivamente.

Por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Peregrino não teve a prisão decretada.

O coronel foi alvo somente de mandados de busca e apreensão, além de uma medida que proíbe comunicação com outros investigados.

Sobre a mesa dele na sede do PL, a PF encontrou, em fevereiro deste ano, uma pasta denominada “memórias importantes”, com um documento que descreve perguntas e respostas relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado por Cid com a PF em 2023.

Flávio Botelho Peregrino ingressou no Exército em fevereiro de 1986, segundo o Portal da Transparência. Depois de 34 anos, em agosto de 2020, ele passou para a reserva remunerada.

Ao longo dos últimos quatro anos, o militar passou por cargos no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Casa Civil e do Ministério da Defesa (clique aqui para ver o histórico da parceria entre Braga Netto e Peregrino).

Mais recentemente, ele foi nomeado como assessor de comunicação na Câmara Legislativa do Distrito Federal (clique aqui para ler) no gabinete do deputado Thiago Manzoni (PL).

Segundo a PF, há “elementos sugestivos” de que Peregrino e o general Braga Netto estavam “associados aos propósitos de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e execução de golpe de Estado” contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A Polícia Federal também diz que os dois militares do Exército também atuaram para “obstruir as investigações”, tentando interferir na colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

Peregrino já havia sido mencionado anteriormente nas investigações. Estava na mesa dele um documento apreendido pela PF, na sede do Partido Liberal, que tratava de um plano para impedir a posse de Lula.

Manuscrito encontrado na mesa de coronel tinha anotações como Lula Não Sobe a Rampa

Ele voltou ao centro da apuração com outro arquivo, que indica uma possível tentativa de acessar informações sobre depoimentos de Cid.

Apesar disso, ele não consta da lista de indiciados pela PF pela tentativa de golpe de Estado.

Peregrino tem longo histórico de proximidade com Braga Netto. Ao longo do governo de Bolsonaro, o militar exerceu funções dentro do GSI, da Casa Civil e do Ministério da Defesa.

Nas duas últimas pastas, o coronel acompanhou as nomeações de Braga Netto para o comando dos ministérios.

Em março de 2020, ele foi alçado ao cargo de assessor-chefe da Assessoria Especial de Comunicação da Casa Civil — Braga Netto havia sido empossado ministro-chefe da pasta em fevereiro.


Em abril de 2021, Flávio Botelho Peregrino foi nomeado como chefe da Assessoria Especial de Comunicação do Ministério da Defesa — a nomeação foi publicada no mesmo dia em que o general da reserva passou a comandar a pasta responsável pelas Forças Armadas.

No período, ainda no início da pandemia de Covid-19, o coronel foi indicado por Braga Netto para integrar o comitê de crise de monitoramento dos impactos da doença.

Flávio Peregrino ainda retornou à Casa Civil em 2022 — meses antes de Walter Souza Braga Netto ser exonerado do comando da Defesa, em um movimento orquestrado para habilitar o general como candidato a vice-presidente na chapa com Jair Bolsonaro.

A derrocada de Bolsonaro e Braga Netto não encerrou a parceria entre os dois alvos da operação da PF deste sábado. Depois de o ex-ministro assumir um cargo dentro do PL, Peregrino passou a dar expediente como auxiliar na sede da sigla, em Brasília.

‘Lula não sobe a rampa’: os documentos apreendidos
‘Lula não sobe a rampa’, diz documento da PF — Foto: Reprodução

Em relatório, a Polícia Federal afirma que apreendeu na mesa de Peregrino, na sede do PL, o manuscrito de um plano que tinha como objetivo impedir que Lula subisse a rampa do Palácio do Planalto. Relembre na imagem acima.

O documento batizava o planejamento como “Operação 142”, fazendo referência ao artigo da Constituição de mesmo número que é interpretado indevidamente como um dispositivo que autorizaria uma intervenção militar no país.

O plano elencava um conjunto de 6 etapas para, segundo a PF, “implementar a ruptura institucional após a derrota eleitoral” de Bolsonaro.

Relatório da PF mostra íntegra de documento encontrado com assessor de Braga Netto que indica que grupo tentava obter informações da delação premiada de Mauro Cid — Foto: Reprodução/PF
Relatório da PF mostra íntegra de documento encontrado com assessor de Braga Netto que indica que grupo tentava obter informações da delação premiada de Mauro Cid — Foto: Reprodução/PF

No pedido que baseou a decisão de Moraes neste sábado, a Polícia Federal apresentou outros elementos da participação de Peregrino na trama golpista.

Ele é mencionado, mais uma vez, pela apreensão de um documento em sua mesa. Desta vez, o arquivo trazia “perguntas e respostas” a respeito da delação de Mauro Cid.


Segundo a Polícia Federal, o documento sinaliza a “preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado”.

E evidencia que o grupo praticou “atos concretos” para ter acesso à colaboração de Cid, indicando um esforço para atrapalhar as investigações.

Assessor na CLDF
Neste ano, já em meio às investigações da tentativa de golpe, Flávio Peregrino foi nomeado para um cargo no gabinete do deputado distrital Thiago Manzoni.

A nomeação foi publicada em agosto. Desde então, Peregrino cumpre expediente como assessor de comunicação do parlamentar, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Em nota à imprensa, Manzoni afirmou que tomou conhecimento da operação contra o funcionário por meio da imprensa e que não havia conseguido “estabelecer contato com ele”. O deputado não disse se o assessor seguirá lotado no gabinete e se limitou a dizer que aguardará o “desenrolar das diligências”

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