Golpistas Pserv e Aspecir acumulam mais de 30 mil processos por débitos sem autorização (roubo), enquanto Itaú e Bradesco garantem estar apenas “seguindo protocolos”. Já os velhinhos seguem colecionando boletos e indignação.
Por Victório Dell Pyrro
No Brasil do século XXI, onde o estresse bancário substituiu o bicho-papão das noites dos aposentados, Armando Quintanilha Boechat achou que era só mais um número na fila do INSS. Descobriu, no entanto, que era cliente VIP — de serviços que nunca contratou.
Desde julho de 2023, sua conta foi sorrateiramente surrupiada em suaves prestações mensais, sem aviso prévio ou cerimônia. E o algoz? Um tal de débito automático que, como todo vilão respeitável, age nas sombras — e com a bênção dos bancos.
Débito automático ou furto covarde?
Não estamos falando das já famosas fraudes na folha de pagamento do INSS — essas pelo menos jáestãosendo investigadas pela PF, mas só depois que nós, s escribas processados por todos os lados calhordas das notícias sobre malfeitos, escrdvemos cansativamrntesobre o roubo até sensibilizar as autoridades adormecidas. Aqui deixo meus PARABÉNS AO SITE METRÓPOLES.
Voltando ao novo golpe que teremos de bater até uma autoridade acordar, aqui, desta vez, a especialidade da enganação é ainda mais refinada: os descontos acontecem depois que o dinheiro pinga na conta do beneficiário, como um cupim bancário que só ataca madeira velha.
No papel principal do espetáculo jurídico, temos as estrelas da cobrança silenciosa: Paulista Serviços (Pserv) e Grupo Aspecir. Juntas, as empresas somam mais de 35 mil processos judiciais, todos de gente que alega nunca ter pedido nada — mas mesmo assim viu o extrato bancário derreter, como sorvete no asfalto de Bangu.
Com quem elas contam para isso? Com quem sempre se conta: os bancos espertalhões, claro. Mas acho que vão preferir serem classificados apenas como bancos trapalhões, alegando serem só desatentos às fraudes contra seus correntistas e não criminosos cúmplices de crime contra os pobres velhinhos.
Itaú e Bradesco: o débito entra, a resposta sai pela tangente
O Bradesco, por exemplo, respondeu ao aposentado Armando que “houve contratação por telefone”. Mas, quando pressionados a apresentar a tal gravação, Pserv e companhia se fazem de surdas. O áudio, supostamente “registrado”, misteriosamente nunca aparece. Já o Itaú garantiu que segue “integralmente as normas do Banco Central”. Que conforto.
A prática virou padrão: empresas dizem que só intermediam, bancos dizem que só obedecem, e o aposentado… paga. Sem saber para quem, nem por quê.
O labirinto da enganação: serviços que ninguém viu, contratos que ninguém assinou
As empresas juram de pés juntos que têm documentos assinados e gravações auditadas. Os juízes, por outro lado, têm dito que não viram nenhuma dessas provas. Algumas sentenças chegam a registrar que o suposto “contrato” nem sequer tem assinatura.
Teve caso em que o nome da aposentada batia, mas os dados pertenciam a uma homônima nove anos mais jovem — uma espécie de clone bancário com CPF alheio.
E quem aparece no extrato como o cobrador? A Pserv. Mas, no fundo, o serviço é vendido por uma terceira empresa, cobrado por uma quarta e intermediado por uma quinta — todas com nomes que soam respeitáveis e absolutamente genéricos.
“Facilitadores de pagamento”, ou golpistas com CNPJ?
A Paulista Serviços se define como “agente de recebimentos”. Ou seja, não vende nada, não entrega nada, só ajuda a tirar dinheiro dos outros. E quem contrata? Empresas que nem sempre têm nome no extrato, mas aparecem no fim do caminho, quando — e se — o aposentado conseguir descobrir o enigma.
O Ministério Público de São Paulo está tentando entender esse nó. Em inquérito civil, o promotor Denilson de Souza Freitas quer saber por que raios o nome do verdadeiro credor está escondido do cliente. Uma dúvida pertinente, especialmente quando até mesmo os bancos agem como se estivessem só passando por ali.
Febraban: nossa missão é mediar com quem não mostra contrato
A Federação Brasileira de Bancos, essa eterna conciliadora das injustiças tecnológicas, diz que “bloqueia o débito futuro quando há reclamações” e tenta resolver a situação “com as empresas”. Traduzindo: o banco só age depois que o rombo acontece e o cliente implora. Proatividade não é política da casa.
Aposentados: o elo mais fraco da cadeia digital
Para a aposentada Ana Lúcia da Silva, só o processo judicial freou a sangria de R$ 59,90 mensais. Ela, como milhares, ainda tenta entender como alguém conseguiu cadastrar débitos automáticos sem sua autorização. A resposta parece óbvia: alguém permitiu. E esse alguém, quase sempre, tem um logo laranja ou azul no aplicativo do celular.
Moral da história?
Se você é aposentado e tem conta no Itaú ou no Bradesco, talvez esteja financiando um plano odontológico, um clube de vantagens ou uma telemedicina que você nem sabe usar. Tudo em nome da modernidade, da tecnologia — e da falta total de escrúpulos.
Porque, no Brasil bancário de 2025, a única certeza é que, quando o banco diz que “segue os protocolos”, é você quem corre risco de ser seguido… pelo débito automático.

