Pesquisa da UCLA mostra que a curiosidade específica tende a crescer após os 50 anos, destacando o papel de atividades como jardinagem e pintura no bem-estar emocional e cognitivo
São Paulo, 26 de maio de 2025 – A curiosidade não apenas sobrevive ao passar dos anos: ela pode crescer com o tempo. É o que revela um estudo publicado recentemente por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), na revista científica PLOS One. Segundo os autores, envolver-se em hobbies significativos está diretamente ligado a esse crescimento, e além de promover bem-estar, essas atividades ajudam a manter o cérebro ativo e receptivo a novas experiências
A pesquisa analisou dados de 1.200 pessoas com idades entre 20 e 84 anos e identificou que a chamada “curiosidade específica”, aquela despertada por temas e experiências pontuais, tende a aumentar após a meia-idade.
Essa constatação contraria a ideia de que o envelhecimento traz desinteresse ou estagnação intelectual. Na verdade, com mais autonomia e tempo livre na fase adulta, muitos buscam atividades que geram prazer, foco e uma reconexão emocional.
Soltar pipa, pintar livros de colorir, cuidar de plantas, montar quebra-cabeças, colecionar miniaturas ou adotar bonecas reborn, que têm ganhado notoriedade recentemente, são passatempos antes vistos como infantis e que estão sendo redescobertos por adultos como formas válidas de desacelerar e cuidar da mente.
O neurologista Dr. Diogo Haddad, head do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que o cérebro adulto permanece plástico, ou seja, capaz de se reorganizar e criar novas conexões. “Estímulos que envolvem aprendizado, curiosidade e participação ativa, como ocorre em muitos hobbies, são essenciais para manter essa plasticidade. Não se trata apenas de lazer, mas de estímulo cognitivo genuíno”, afirma.
Além de ativar áreas ligadas à memória, atenção e coordenação motora, os hobbies também promovem benefícios emocionais.
De acordo com o psiquiatra Dr. Alaor Carlos de Oliveira Neto, coordenador do Serviço de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, dedicar-se a um passatempo favorito ajuda a quebrar a rotina, aliviar o estresse, fortalecer vínculos sociais e nutrir o senso de propósito, elementos importantes para a saúde mental.
“Qualquer hobby pode ser considerado saudável quando contribui positivamente para o bem-estar da pessoa, sem causar prejuízos em outras áreas da vida. Eles ajudam a criar um senso de realização, pertencimento e até mesmo identidade”, complementa.
Apesar dos muitos benefícios, é preciso atenção
O entusiasmo crescente por passatempos inusitados também levanta pontos de alerta. Nas últimas semanas, por exemplo, observou-se uma popularização das bonecas reborn entre adultos, associada a uma busca por conforto emocional e rotina afetiva.
Segundo o psiquiatra, o hobby deixa de ser benéfico quando passa a substituir relações reais, atrapalhar compromissos do dia a dia ou servir como fuga constante da realidade emocional. O uso excessivo, especialmente em atividades que envolvem fantasia ou isolamento, pode indicar desequilíbrios que exigem atenção.
“Brincar não é o problema. Mas quando o cuidado com bonecas ou outros objetos simbólicos começa a gerar comportamentos infantis ou isolamento social, é hora de buscar apoio profissional”, alerta Dr. Alaor Carlos.
Estímulo social
A redescoberta de atividades afetivas e manuais acompanha um movimento maior de busca por experiências mais humanas em um mundo hiperconectado. Pintura em grupo, oficinas de cerâmica, encontros para soltar pipa em parques ou jogar dominó são exemplos que vêm ganhando espaço em centros culturais, espaços terapêuticos e ambientes de convivência. Mais do que passatempo, esses momentos funcionam como válvulas de equilíbrio emocional e estimulação constante do cérebro.
No fim das contas, o valor dessas práticas está menos na atividade em si e mais na maneira como ela se encaixa na vida de cada pessoa. “O equilíbrio entre lazer, vínculo e saúde emocional é o que torna um hobby realmente valioso na vida adulta. E quanto mais estimulado for o cérebro ao longo da vida, melhores são as perspectivas para o futuro cognitivo”, finaliza Dr. Diogo Haddad.

