Carla Zambelli anuncia fuga do Brasil e que vai “denunciar ditadura” na Europa

Anúncio foi feito nesta terça-feira, 20 dias depois de o STF condenar a parlamentar a 10 anos de prisão por invadir os sistemas do CNJ

Por Redação

Após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de 10 anos de prisão por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) anunciou sua saída do Brasil. A decisão, comunicada em um canal no YouTube, revela mais do que um exílio autoimposto: trata-se de um movimento calculado.

“Estou fora do Brasil. Já faz alguns dias”, declarou Zambelli, dizendo buscar tratamento médico fora do país. Sem revelar sua localização exata, a deputada adiantou que pretende se basear na Europa, onde possui cidadania. E, em um discurso marcado por acusações ao sistema político-judicial brasileiro, afirmou que sua missão, agora, é “denunciar a ditadura brasileira nas cortes europeias”.

“Queria anunciar que estou fora do Brasil já faz alguns dias. Eu vim, a princípio, buscando tratamento médico que eu já fazia aqui e, agora, eu vou pedir para que eu possa me afastar do cargo”, afirmou a deputada em transmissão no YouTube.

A fala de Zambelli é um discurso com forte apelo entre bolsonaristas. “Não é desistir do país. É resistir”, declarou. A frase resume bem o novo personagem que tenta construir para si fora do território nacional: o de uma combatente ideológica, em “autoexílio”, em nome da liberdade.

Zambelli citou o correligionário, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também deixou o Brasil e se licenciou do cargo.

Condenação e recursos

A condenação imposta pela Primeira Turma do STF — por unanimidade — não apenas determina pena de prisão de mais de uma década, mas também a perda de mandato. No entanto, o afastamento efetivo da parlamentar do cargo depende ainda da Câmara dos Deputados. Zambelli, portanto, continua deputada federal.

A defesa da congressista já protocolou recurso, alegando cerceamento de defesa. Segundo os advogados, o acesso aos autos teria sido limitado, especialmente no que diz respeito a cerca de 700 gigabytes de dados obtidos durante a investigação, armazenados na plataforma “mega.io”. No recurso, os defensores pedem não só a anulação da sentença, como também a suspensão de suas consequências — como a perda de mandato e a inelegibilidade por oito anos.

O caso CNJ: ataque ao Judiciário

A sentença imposta pelo Supremo decorre de Zambelli de invasão dos sistemas internos do CNJ, em janeiro de 2023. Segundo a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, Zambelli foi a mente por trás da ofensiva hacker que resultou um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.

Walter Delgatti Neto, o hacker já conhecido de episódios anteriores — como o da “Vaza Jato” —, afirmou ter agido sob orientação direta da deputada. Ele também disse ter recebido ao menos R$ 13,5 mil por seus serviços, além de um texto pronto, redigido por Zambelli, para ser inserido nos sistemas judiciais. A Polícia Federal diz que houve o uso de credenciais falsas e ação orquestrada.

A Corte máxima foi enfática: trata-se de um ataque deliberado contra as instituições democráticas. E a pena, pesada, carrega uma mensagem institucional clara de que esse tipo de atentado não será tolerado.

Um quadro de saúde delicado

Desde a condenação, Zambelli passou a reforçar publicamente sua condição de saúde. Em meados de maio, afirmou sofrer da síndrome de Ehlers-Danlos — uma doença rara do tecido conjuntivo, que, segundo ela, agravaria os riscos de uma eventual prisão. Alegou ainda problemas cardíacos e quadros de depressão. “Eu não sobreviveria à cadeia”, disse, atribuindo o agravamento de sua condição ao “estresse causado pelo processo”.

Campanha de doações

Zambelli lançou uma campanha de doações via Pix, pedindo ajuda de seus seguidores para pagar as multas judiciais impostas. O vídeo, publicado em suas redes na época, traz uma estética dramática, acompanhada de falas sobre coragem, resistência e sacrifício. “Essa é uma batalha por todos nós”, escreveu.

O pedido, segundo aliados, também serve para reforçar o vínculo emocional com sua base, que enxerga nela uma mártir da “luta contra o sistema”.

O que vem a seguir?

A saída do Brasil abre uma nova fase na trajetória de Carla Zambelli. Agora, do exterior, a deputada deve investir em uma agenda internacional política. Resta saber até que ponto ela vai encontrar eco.

Na esfera jurídica, o processo continua em tramitação, e a possibilidade de extradição ou novas medidas cautelares pode voltar ao centro do debate, a depender de como se desenrolarem os próximos passos no STF e na Câmara dos Deputados.


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