Presidente da Câmara decidiu seguir o que determina a Lei, após ser achincalhado no Plenário da Casa
Por Victório Dell Pyrro
Depois de ser chamado de “frouxo” e “traidor” por oposiçãoao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Hugo Motta (Republicanos‑PB) finalmente cedeu: a cassação do mandato de Carla Zambelli (PL‑SP) será decidida pelo plenário da Câmara. Parece pouco? Para um presidente da Casa acusado de “se acovardar” perante ministros do STF, é quase um ato heróico.
Por que tudo isso?
Carla Zambelli foi condenada pela 1ª Turma do STF, com trânsito em julgado da sentença, por crimes de invasão ao sistema do CNJ e falsidade ideológica — utilizou até um hacker ligado ao PT (Walter Delgatti Neto) para forjar um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Pena: 10 anos em regime fechado, mais multa e perda de mandato automática.
Com a “decisão judicial transitada”, Motta alegou inicialmente que não caberia votação em plenário, que bastaria comunicar a mesa diretora e executar o ato, como se tivesse esse poder todo. Vaza-se que ele fez isso após ouvir o ministro da Constituição cochichar em seus ouvidos nos bastidores.
O estopim esquentou o plenário
O estopim? Um discurso inflamado do deputado André Fernandes (PL‑CE), vice‑líder da oposição, que soltou o clássico: “Ceará é terra de cabra macho, não de cabra frouxo com medo de ministro do Supremo!”
O camarada não poupou: Motta mergulhou no caixote de bombons regimental e saiu dando declarações pomposas no seminário “Agenda Brasil”, tentando justificar com explicações de protocolo. Mas sem sucesso.
Motta contra-ataca – com estilo institucional
Na terça‑feira (10), o presidente da Casa deu uma guinada: admitiu que “houve uma confusão” e que “a palavra final será do plenário”, no cumprimento “regimental” do processo: notificar Zambelli, garantir defesa, e fim da colocação na pauta. A frase favorita? “Eu não funciono no grito.” Traduzindo: “Não adianta me xingar — eu vou seguir o rito.”, como se tivesse feito isso.
Ele se defendeu alegando que ordenou licença de 127 dias para Zambelli, mesmo foragida na Itália, concedida enquanto esperava a conclusão judicial.
Hugo Motta, alvo da bronca, foi acusado de amarrotar o protagonismo e obedecer ao STF sem pestanejar .
O deputado André Fernandes (PL‑CE): levantou a bandeira dos “cabra macho” e acusou Motta de fraqueza e traição .
Lindbergh Farias (PT‑RJ): entrou no jogo para defender “constitucionalidade” e destacar que Zambelli fugiu da justiça, também mostrando desconhecer o regimento da Casa e a Constituição.
Como será a votação?
A tramitação já foi definida, apesar de Lindberghs palpiteiros: notificação, defesa feita, e então o voto em plenário. São necessários 257 votos para confirmar a cassação. É isso que diz a Lei.
A contagem ainda não foi feita (“big data” parlamentar que lute!), mas o Centrão e o PT tendem a apoiar o cumprimento da sentença ao arrepio da Constituição, sempre de acordo com seus interesses. Já o PL e bolsonaristas prometem coragem cearense para barrar, no grito dos desesperados contra “Xandão”.
O que tudo isso nos diz?
Neste picadeiro democrático, o que parecia uma simples execução de sentença judicial virou um espetáculo político com duelos de palavra de ordem (“não funciono no grito!”), escândalos com hacker, e deputados dizendo “cabra fraquinho” no microfone. Motta acha que saiu com a aura de quem “cumpriu a Constituição” — mesmo se chegou meio atrasado.
Linha do tempo
Data Evento
6 jun 2025 STF condena Zambelli + trânsito em julgado; ela foge para Itália
9 jun 2025 Motta declara: “decisão judicial se cumpre, sem votação”, que peito, que se danem os deputados e eleitores desses frouxos!
10 jun 2025 Pressão de PL‑CE + grita “cabra frouxo”
O que vem a seguir
Notificação e direito à defesa de Zambelli (mesmo que ela esteja na Itália).
Plenário marca e votação: 257 deputados decidem o futuro do mandato.
Possível uso político da cassação como exemplo sobre independência dos Poderes.
Este episódio é pura comédia política: Motta, o “frouxo” que teve de engolir o grito e provar que, sim, funciona com Constituição — ainda que a contragosto. Resta saber se a plateia descerá o cacete administrativo ou aplaudirá o show.

