A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) decretou nesta terça-feira (24) a interrupção definitiva das operações da companhia aérea regional Voepass Linhas Aéreas em virtude da persistência de falhas sérias em seus sistemas de gestão de segurança operacional. A medida segue ao histórico de fiscalização iniciada após o grave acidente com o voo 2Z2283, em 9 de agosto de 2024, em Vinhedo (SP), quando 62 pessoas morreram .
Da suspensão cautelar à interrupção definitiva
Em 11 de março de 2025, a ANAC suspendeu cautelarmente as atividades da Voepass, alegando “incapacidade da empresa em solucionar irregularidades” e “descumprimento sistemático das exigências” estabelecidas anteriormente .
A esta decisão, somou-se a determinação de medidas corretivas desde outubro de 2024: redução da malha, aumento do tempo de solo da frota para manutenção, troca de gestores e implementação de um plano de ação .
Irregularidades persistentes e crise de confiança
Ao realizar uma nova auditoria em fevereiro de 2025, a ANAC constatou:
Degradação dos sistemas de gestão, com falhas recorrentes em processos já supostamente solucionados;
Quebra de confiança nos controles internos e procedimentos de segurança .
Diante disso, foi decidido que a companhia não demonstrou capacidade de operar com segurança, mantendo a proibição até que tais condições sejam atendidas em conformidade com os regulamentos.
Impacto na malha aérea e tutela judicial
Até a data da suspensão, a Voepass operava uma frota de seis ATRs em 15 destinos comerciais e contratos de fretamento em outras duas rotas .
A decisão implicou no cancelamento imediato de dezenas de voos — afetando cerca de 2.000 passageiros naquele dia — e gerou impacto direto no caixa da empresa, que já havia solicitado tutela preparatória para reestruturação em fevereiro .
Repercussão trabalhista e financeira
Em abril de 2025, a empresa anunciou cortes em seu quadro de funcionários, sem divulgar números, justificando a medida como essencial à readequação à nova realidade .
Posteriormente, em 23 de abril, a Voepass entrou com pedido de recuperação judicial, alegando uma dívida atualmente estimada em cerca de R$ 209 milhões e responsabilizando a LATAM por parte desse déficit — além de mencionar dificuldades no codeshare e atraso nos repasses .
Perspectivas para retomada das atividades
A Voepass tem reiterado que sua frota permanece aeronavegável e que envidará esforços para restabelecer o Certificado de Operador Aéreo (COA) .
No entanto, a ANAC mantém que a retomada das operações só será possível após:
- Correção de todas as não conformidades mapeadas na gestão de segurança operacional;
- Demonstração de efetividade dos processos internos para identificação, resposta e mitigação de riscos;
- Reconstrução de confiança regulatória, com comprovação sólida de melhorias sustentáveis.
Direitos dos passageiros afetados
A ANAC orienta que os clientes com bilhetes da Voepass a buscar reembolso integral, reacomodação em outros voos, ou ainda alternativas de transporte, incluindo rodoviário .
Esses direitos estão assegurados pela Resolução ANAC nº 400/2016 e pelo Código de Defesa do Consumidor.
Recomenda-se contato direto com a companhia, agência ou via Consumidor.gov.br e Procon, em caso de descumprimento .
⚖️ Cenário atual e próximo passos
A ANAC adota postura de fiscalização permanente até que a Voepass comprove as correções exigidas .
A LATAM discute encerrar seu codeshare no período entre julho e outubro de 2025, o que pode agravar a crise financeira da Voepass .
Após a proteção judicial, a companhia pode avançar para falência, caso a recuperação judicial não prospere .

Linha do tempo
Data Evento principal
9 ago 2024 Acidente do voo 2Z2283, 62 mortes
Out 2024 Medidas exigidas: redução de malha e mudança administrativa
Fev 2025 Auditoria aponta falhas persistentes e degradação
11 mar 2025 Suspensão cautelar até regularização
Abr 2025 Demissões e pedido de recuperação judicial
23 abr 2025 Voepass entra com recuperação judicial
Jun 2025 (atual) Interrupção definitiva pela ANAC

