Roberval Andrade é acusado de participar de esquema para liberação de helicóptero usado pela facção criminosa. Polícia investiga ligação com o assassinato do empresário e delator Vinícius Gritzbach, morto após denunciar corrupção policial
O piloto bicampeão da Fórmula Truck, Roberval Andrade, de 54 anos, foi preso na terça-feira (25) pela Polícia Federal na Operação Augusta, que investiga um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e favorecimento à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo os investigadores, Roberval estaria envolvido na tentativa de restituição fraudulenta de um helicóptero modelo Agusta AW109, apreendido em 2022, e que teria sido utilizado para o transporte de drogas, dinheiro e integrantes da cúpula da facção.
A operação tem como base as revelações feitas pelo empresário e delator Vinícius Gritzbach, assassinado em novembro de 2024 a tiros de fuzil na saída do Aeroporto de Guarulhos. Gritzbach colaborava com o Ministério Público de São Paulo e detalhou um sofisticado esquema de corrupção envolvendo policiais civis e militares que protegiam membros do PCC, em troca de propina.

Helicóptero do PCC
A aeronave, avaliada em R$ 10 milhões, havia sido apreendida em uma operação contra o tráfico internacional de drogas. Roberval Andrade, segundo a PF, negociava com policiais e advogados a devolução do helicóptero mediante o pagamento de propina. A PF interceptou conversas entre Andrade e policiais civis, como Marcelo Marques de Souza (conhecido como Bombom) e Sérgio Ricardo Ribeiro (Serginho Denarc), onde se discutia o pagamento de até R$ 1 milhão pela liberação da aeronave.
Um dos trechos transcritos pela investigação mostra Bombom pressionando por valores:
“Rober, aqui o cara tá esperando uma resposta. Aí quando a gente arrumar o dinheiro, a gente vem aqui e começa o processo… No 700, ele queria no 1000”, diz Bombom.
A aeronave, que teria sido usada pelo PCC para fins logísticos, passou a ser chamada nos bastidores da investigação como o “helicóptero do PCC”. A tentativa de restituição fraudulenta é tratada como mais um braço da lavagem de dinheiro da facção.
Roberval Andrade, preso em Operação da Polícia Federal (PF), nessa quarta-feira (25), usou dados de uma pessoa fictícia para tentar justificar a compra do helicóptero que viria a ser utilizado para o transporte de drogas, dinheiro e integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com as investigações.
A aeronave foi adquirida da empresa Mendonça Prestadora de Serviços, representada por Igor Mendonça Castellamari. No termo de compra e venda, Roberval se comprometeu a pagar R$ 1 milhão pelo veículo, sendo R$ 50 mil de entrada e R$ 950 mil mediante a entrega de um carro da marca Audi RS Avant, ano 2021, que estava no nome de uma de suas empresas: a GCA Soluções e Logística.
Conforme detalhado pela PF, Igor Castellamari é uma pessoa inexistente. Seu registro de nascimento não foi encontrado pela equipe de investigação, e o número de RG atribuído a ele é de outro homem, nascido no Pará.
O helicóptero adquirido por Roberval acabou apreendido pela PF em abril de 2022 pela 6ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro (DIFAC-LD), da Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio (DIPATRI).
A aeronave foi liberada meses depois, em agosto, após propina paga pelo empresário aos policiais civis Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”, e Sergio Ricardo Ribeiro, o Serginho do Denarc, também alvos da Operação Augusta nessa quarta-feira (25). Bombom cobrou R$ 1 milhão, segundo a PF. O acordo teria sido fechado em R$ 700 mil.
Meses após recuperar o helicóptero, Roberval transferiu novamente o veículo Audi RS Avant para sua empresa GCA Soluções e Logística, como se a compra da aeronave nunca tivesse acontecido. “A entrega do Audi à Mendonça Prestadora de Serviços nunca se concretizou e a alegada doação em pagamento para quitação da dívida foi simulada”, diz a PF.
Marcelo Marques de Souza, o Bombom, detido após inquérito da Polícia Federal ligá-lo ao crime organizado, foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público, no dia 10 de fevereiro, por organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O acusado está preso desde dezembro de 2024, suspeito de extorquir Vinícius Gritzbach, que delatou policiais civis e membros da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). O empresário foi assassinado com 10 tiros de fuzil em 8 de novembro, no Aeroporto de Guarulhos.
Esquema exposto por delator assassinado
A Operação Augusta é desdobramento direto da Operação Tacitus, deflagrada no final de 2024, após a delação de Vinícius Gritzbach. Empresário, Gritzbach revelou um sistema de venda de proteção policial, extorsões e ocultação de provas que favorecia diretamente o PCC. Após prestar diversos depoimentos e fornecer documentos sigilosos, ele foi executado em 8 de novembro de 2024, por homens armados com fuzis na rodovia Hélio Smidt, após desembarcar no aeroporto de Cumbica.
O assassinato, segundo o Ministério Público, foi orquestrado por policiais ligados à facção. Entre os acusados pelo homicídio estão três PMs apontados como executores: Denis Martins da Silva, Ruan Silva de Souza e Fernando Genauro da Silva. Ao todo, 18 policiais civis e militares foram denunciados por organização criminosa, corrupção e homicídio qualificado.
Ligação direta com o piloto
A delação de Gritzbach mencionava Marcelo Bombom e Serginho Denarc como operadores da rede de proteção ao PCC. Agora, ambos estão presos ao lado do piloto Roberval Andrade, na mesma operação, por participarem do mesmo núcleo de corrupção. O advogado Anderson dos Santos Domingues, conhecido nos autos como “DR”, também é alvo da investigação. Ele seria o responsável por articular juridicamente o pedido de restituição da aeronave e fazer os repasses ilegais entre as partes.
Segundo a PF, o grupo formava uma associação criminosa com divisão de tarefas: Roberval como financiador e interessado na restituição do helicóptero; policiais civis como facilitadores dentro das instituições; e o advogado como elo jurídico e financeiro.
Os crimes investigados
Os envolvidos poderão responder por:
Corrupção ativa e passiva
Organização criminosa
Lavagem de dinheiro
Violação de sigilo funcional
Obstrução de investigação criminal
Homicídio qualificado (no caso da morte de Gritzbach)
As penas somadas podem ultrapassar 30 anos de prisão.
Repercussão
O envolvimento de Roberval Andrade, um dos maiores nomes da Fórmula Truck, causou espanto no meio esportivo. Com 25 temporadas, ele é bicampeão da Fórmula Truck (2002 e 2010) e campeão da Copa Truck (2018), sendo atualmente piloto da equipe oficial Mercedes-Benz. A defesa do piloto ainda não se manifestou.

