Ex-presidente afirma que não precisa voltar à Presidência para mudar o país, critica STF e reforça narrativa de perseguição política. Aliados como Tarcísio, Flávio Bolsonaro e Silas Malafaia pedem pacificação e ampliam pressão por anistia.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu neste sábado (29) milhares de apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, em mais um ato público com forte tom político. Sob o lema “Liberdade e Justiça”, o evento teve como foco principal a defesa da anistia aos presos dos ataques de 8 de janeiro de 2023, críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e um apelo pela conquista de maioria no Congresso Nacional.
“Nem preciso ser presidente”
Em discurso de cerca de 20 minutos, Bolsonaro adotou um tom messiânico e institucional. Disse que mesmo fora do poder ainda tem influência suficiente para mobilizar o país e destacou que seu foco, agora, é conquistar maioria no Congresso Nacional.
“Me deem 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do Brasil. Nem preciso ser presidente”, declarou, sendo ovacionado por apoiadores.
Em outro momento, o ex-presidente sugeriu que sua inelegibilidade não o impede de ser uma peça central da política nacional:
“Não interessa onde eu esteja, aqui ou no além. Continuaremos mobilizados para mudar o Brasil”, afirmou.
Ataques ao STF e defesa de anistia
Bolsonaro voltou a criticar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e reiterou que não houve tentativa de golpe de Estado. Chamou os inquéritos em curso de “fumaça de golpe” e sugeriu que seu verdadeiro objetivo seria eliminá-lo politicamente.
Bolsonaro disse que os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, foram um “movimento orquestrado pela esquerda”, e chamou o processo por tentativa de golpe de Estado, pelo qual está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), de “fumaça de golpe”.
Bolsonaro enumerou uma série de episódios que desmontariam a tese de tentativa de golpe após a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
“Nomeamos dois comandantes de força a pedido desse cara que está no governo agora. Quem quer dar golpe nomeia comandantes a pedido do governo opositor? No dia 30, algo me fez sair do Brasil. Não era apenas para não passar a faixa? Jamais eu passaria a faixa para um ladrão. Jamais eu passaria a faixa para um ladrão”, disse Bolsonaro.
O ex-presidente também apelou pela anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Segundo ele, os condenados seriam “inocentes” e vítimas de “armação”.
“Apelo aos Três Poderes. Vamos pacificar o Brasil. Vamos conceder anistia a essas pessoas. Todos sabem que houve infiltração”, disse, repetindo uma narrativa já refutada pelas investigações da Polícia Federal.

Malafaia, Flávio, Tarcísio e os outros
O ato foi convocado pelo pastor Silas Malafaia, que fez duras críticas ao STF e à delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Chamou Moraes de “ditador da toga” e afirmou que “a democracia está sob ameaça”.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também discursou. Com tom mais moderado, pediu respeito às instituições e reiterou o apoio à anistia. “Não se trata de impunidade. Trata-se de justiça e pacificação”, afirmou.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, afirmou que a anistia deve ser prioridade e sugeriu que o indulto poderia ser um compromisso político assumido por um futuro presidente de direita. “Quem fecha mão da liberdade por medo acaba escravo por escolha”, afirmou, em apelo à mobilização popular.
Outros nomes como os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO) e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), também marcaram presença. Gayer tentou fazer parte do discurso em inglês — “para a imprensa internacional” — mas foi interrompido por Bolsonaro, que considerou a tentativa “desnecessária”.
Bandeiras, faixas e símbolos

A Avenida Paulista foi tomada por bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e de Israel. Havia faixas com dizeres como “anistia já” e “ditadura do Judiciário”. Também foram vistos cartazes com imagens de Alexandre de Moraes, muitas vezes com dizeres agressivos.
Repercussão e contexto jurídico
O ato ocorre em meio à expectativa de avanço das ações penais no STF contra Bolsonaro e aliados, investigados por articulação de tentativa de golpe após a derrota eleitoral de 2022. O julgamento está previsto para setembro, e o ex-presidente pode pegar mais de 39 anos de prisão caso condenado.
Além disso, Bolsonaro segue inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mesmo assim, seus aliados indicam que ele terá papel central nas eleições de 2026, seja como cabo eleitoral, articulador ou até na tentativa de reverter a inelegibilidade no STF.
Panorama do ato
Aspecto Detalhes
Público estimado ~12.400 pessoas (USP/UOL)
Local Avenida Paulista, em frente ao MASP, São Paulo
Principal mote Anistia aos presos do 8/1, críticas ao STF e conquista de maioria no Congresso
Presenças políticas Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Malafaia, Nikolas, Gayer
Frases marcantes “Me deem 50% do Congresso”, “Nem preciso ser presidente”, “Make Brazil great again”
Clima geral Pacífico, mas com discursos de forte carga ideológica e institucional
O evento confirma a estratégia do bolsonarismo de manter viva sua base mobilizada e mirar não apenas o Executivo, mas o controle legislativo como forma de influência institucional. Apesar da ausência de novidades eleitorais, o ato deixa clara a intenção de Bolsonaro de seguir como protagonista na política brasileira — dentro ou fora do cargo.
Segundo medição do Instituto de Física da USP, a manifestação reuniu cerca de 12.400 pessoas, número inferior aos atos anteriores realizados no mesmo local — como os mais de 44 mil registrados em abril deste ano. O PL, partido de Bolsonaro, atribuiu o público menor ao fato de ser fim de mês e à coincidência com o jogo da Seleção Brasileira na Copa América.

