Novo técnico italiano da Seleção Brasileira entra em campo com a camisa da impunidade: Ancelotti é condenado na Espanha, mas já pode se considerar adaptado ao ambiente da CBF e da política nacional
Por Victório Dell Pyrro
Se você achava que o novo técnico da Seleção Brasileira, o importado Carlo Ancelotti, viria apenas com títulos, terno italiano e sotaque charmoso, se enganou. O comandante estrangeiro que oficialmente comanda o escrete canarinho para 2026 acaba de apresentar um currículo completo, incluindo agora uma condenação criminal por fraude fiscal na Espanha. Um verdadeiro cartão de boas-vindas ao futebol brasileiro, onde corrupção e escândalos são mais frequentes do que escanteios.
O Tribunal de Madri confirmou: Ancelotti foi condenado a um ano de prisão por sonegar mais de 1 milhão de euros em impostos, lá em 2014, quando era técnico do Real Madrid. Mas calma! Nada de celas ou macacão laranja: como é réu primário e a pena é inferior a dois anos, o treinador vai pagar uma multinha simbólica e seguir a vida — afinal, prisão é coisa para pobre e ladrão de galinha, né?
Sonegar? Só se for com classe e já mo estilo nacional
O esquema era digno de manual de esperteza fiscal: Ancelotti, apesar de declarar residência na Espanha, resolveu “esquecer” de incluir na sua declaração os valores recebidos de direitos de imagem por meio de empresas de fachada em paraísos fiscais. O bom e velho truque do “não fui eu, foi o CNPJ que inventei”. O Ministério Público espanhol bateu o olho e não perdoou.
A sentença diz que Ancelotti “simulou a cessão de seus direitos de imagem” para duas empresas, apenas para esconder os milhões recebidos em contratos com grandes marcas. Traduzindo: ele passou a perna no Leão espanhol. Mas como toda estrela do futebol, não vai suar muito com isso. Vai apenas tirar uma foto com cara de “foi mal, galera”, pagar o que deve, e seguir rumo ao Brasil.

CBF: lugar de quem tem o passado limpinho… ou não
E para onde vai esse técnico agora? Para a CBF, claro, aquela instituição conhecida pela sua transparência suíça, ética escandinava e compromisso inabalável com a legalidade — só que não. Ancelotti chega a uma casa onde o ex-presidente José Maria Marin foi parar na cadeia nos EUA por corrupção, Marco Polo Del Nero foi banido do futebol por esquemas milionários, e Ricardo Teixeira… bom, esse ninguém nunca achou, nem a Interpol.
Ou seja, Ancelotti foi escolhido a dedo: tem experiência internacional, sabe comandar grandes grupos e já entende como funcionam os bastidores nebulosos do futebol de elite. Se tivesse nascido no Brasil, talvez fosse presidente da CBF, ou senador.
E por falar em Brasil…
Enquanto na Espanha a Justiça correu, julgou e condenou em menos de uma década, aqui no Brasil os processos contra políticos e cartolas se arrastam mais que final de novela das nove. Quem deve milhões ao Fisco brasileiro geralmente resolve com um churrasco, um bom advogado e um cargo comissionado.
Quer um exemplo? A CPI da CBF virou lenda urbana. A Lava Jato naufragou. Os ex-dirigentes continuam dando entrevistas como “consultores”. E o famoso “pix de emenda” da política nacional segue forte — tudo dentro da lei, ou pelo menos dentro da gaveta da comissão de ética.
Um técnico à altura do Brasil
Ancelotti, portanto, já está completamente integrado ao estilo brasileiro: não é só pela tática 4-4-2, mas pelo jeitinho, pelas contas escondidas, pelos processos abafados e pelas multas simbólicas. Se o futebol reflete o país, a Seleção está em ótimas mãos.
E mais: não se espante se a CBF, em vez de pedir explicações, fizer um pronunciamento de boas-vindas em alto estilo. Algo como:
“Ancelotti, estamos orgulhosos de tê-lo conosco. Afinal, aqui a gente entende que errar é humano, esconder é estratégico e não pagar imposto… é só uma escolha contábil.”
Se tudo der certo, o técnico pode até dar uma palestra no Congresso, ser homenageado com medalha de honra ao mérito e, quem sabe, assumir o Ministério da Fazenda — afinal, se tem uma coisa que o homem sabe, é lidar com dinheiro. Só não sabe declarar.
Com informações do Tribunal de Madri, Ministério Público espanhol, El País, Marca e aquela eterna vergonha alheia que sentimos toda vez que misturam futebol, corrupção e Brasil.

