Itamaraty questina tarifaço de Trump na OMC: “Tarifas arbitrárias anunciadas de forma caótica”

Itamaraty leva “tarifaço” de Trump à agenda da OMC e amplia crise diplomática com os EUA

O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, apresentou nesta terça-feira (22) sua resposta formal ao anúncio do ex‑presidente dos EUA Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, agendada para entrar em vigor em 1º de agosto de 2025.

A iniciativa devastadora para setores da economia brasileira que exportam para os EUA, ocorreu na sequência de Trump criticar o julgamento do ex‑presidente Jair Bolsonaro como uma “caça às bruxas” .

O gesto institucional na OMC

O Itamaraty protocolou oficialmente o pedido de inclusão do tema na pauta da reunião do Conselho Geral da OMC, nos dias 22 e 23 de julho, sob o título “Respeitando o sistema comercial multilateral com base em regras”. Na sessão, Brasil apresentará posicionamento político, alertando para os riscos do uso de tarifas como instrumento político e violação das regras da OMC .

Embora ainda não seja uma disputa formal, o gesto sinaliza a rejeição brasileira e busca mobilizar outros países afetados pela ofensiva tarifária americana ― um alerta diplomático em defesa do sistema multilateral de comércio .

Reação do governo e justificativas

Desde março de 2025, os Ministérios das Relações Exteriores (MRE/Itamaraty) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) qualificaram tarifas impostas anteriormente — de 10% e de 25% sobre aço e alumínio — como “injustificáveis e equivocadas” e indicaram que tal política “viola compromissos legais” dos EUA junto à OMC .

O Brasil vinha negociando com os EUA, mas também deixou claro que não descarta recorrer à OMC como forma de defender seus interesses nacionais. Uma das bases da argumentação brasileira é que os EUA mantêm um superávit comercial de aproximadamente US$ 7 bilhões em bens com o Brasil em 2024 (US$ 28,6 bilhões somando bens e serviços), o que desmente a ideia de desequilíbrio invocada pelos EUA como justificativa para tarifas recíprocas .

Negociações e diplomacia

Em 14 de março, técnicos do Itamaraty e do MDIC participaram da primeira rodada de negociação com o USTR (representante comercial dos EUA), por videoconferência. O objetivo foi demonstrar que a sobretaxa prejudica inclusive a indústria americana, dado que o Brasil exporta principalmente aço semiacabado, usado pelas siderúrgicas dos EUA .

Mobilização política interna

A Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado brasileiro articulou o envio de uma missão diplomática a Washington, liderada pelo senador Nelsinho Trad. O objetivo é dialogar com o Congresso americano, tentando adiar ou reverter a medida antes de sua implementação oficial em agosto .

Perspectivas de retaliação

O Brasil aprovou em abril de 2025 a Lei da Reciprocidade Comercial, que autoriza medidas de retaliação a países que imponham barreiras discriminatórias ao comércio brasileiro. O governo brasileiro já sinalizou que poderá usá-la como instrumento de resposta diplomática e econômica caso não haja reversão das tarifas .

As reações políticas brasileiras

O presidente Lula da Silva respondeu ao anúncio dos 50% e afirmou que “nenhum gringo vai mandar no Brasil”, rejeitando a interferência dos EUA e defendendo a soberania nacional . Parlamentares reforçaram que os dados de superávit comercial dos EUA com o Brasil demonstram a falácia das alegações de desequilíbrio e defenderam uma postura “pacífica, persistente e baseada em fatos” .

Impactos políticos internos

A ofensiva americana interrompeu a queda vertinosa na aprovação de Lula, unindo parte da opinião pública e de setores empresariais — inclusive conservadores — em torno de sua liderança anti‑interferência. Ao mesmo tempo, as manobras de Trump fortaleceram a imagem de Bolsonaro entre seus apoiadores, embora não tenham evitado os desdobramentos legais que enfrenta .


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