Autor de petição enviada à CIDH apontou supostos abusos judiciais, censura e prisões ilegais e solicitou sigilo alegando temer represálias
ganham palco internacional com denúncia contra Moraes na OEA
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA), recebeu uma denúncia grave que lança um holofote incômodo sobre a atuação dos Três Poderes no Brasil. O alvo central é o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de liderar o que seria um processo sistemático de violação de direitos humanos, com o respaldo ou omissão de outras instituições da República. A petição, apresentada sob sigilo por temor de retaliações, fala em censura, prisões arbitrárias, perseguição política e uso abusivo do aparato judicial.
Segundo o documento, Moraes teria conduzido uma onda de prisões preventivas em massa após os atos de vandalismo de 8 de Janeiro de 2023, sem individualização das condutas e com base em critérios genéricos, como geolocalização. A denúncia descreve um cenário alarmante: mais de 1,4 mil pessoas detidas em condições consideradas insalubres em um ginásio da Polícia Federal, com decisões judiciais tomadas à revelia do contraditório e da ampla defesa — pilares mínimos de qualquer democracia funcional.
Não é apenas o STF que aparece sob ataque. A Procuradoria-Geral da República é acusada de cumplicidade silenciosa, deixando de agir diante de abusos do Judiciário. O Executivo, sob a liderança do presidente Lula, teria se mostrado conivente com o avanço autoritário, alimentando a narrativa de que todos os envolvidos no 8 de Janeiro são “terroristas”, sem espaço para distinções ou garantias legais. Já o Congresso Nacional, teoricamente responsável por conter excessos dos demais Poderes, surge descrito como omisso e negligente, incapaz de defender o equilíbrio constitucional.
A crítica à atuação do Tribunal Superior Eleitoral também é contundente. A corte é acusada de atuar como agente direto de censura prévia, perseguindo jornalistas, religiosos e influenciadores sob o pretexto do combate à desinformação. A petição afirma que decisões judiciais teriam bloqueado perfis e censurado conteúdos de cidadãos comuns, parlamentares e comunicadores — muitas vezes em segredo de Justiça e sem direito de defesa. Entre os nomes citados como alvos dessas ações estão Allan dos Santos, Paula Schmitt e Rodrigo Constantino.
O documento ainda denuncia o uso de medidas judiciais para forçar plataformas como X (antigo Twitter), Instagram, YouTube e Facebook a retirar conteúdos críticos ao governo ou ao Judiciário, além de desmonetizar perfis de figuras públicas da oposição. Parlamentares conservadores como Nikolas Ferreira, Bia Kicis, Gustavo Gayer, Damares Alves e Marco Feliciano também são mencionados como vítimas de perseguições judiciais e institucionais.
A petição sustenta que o Brasil atravessa uma “grave crise institucional”, na qual o sistema jurídico estaria “parcial, disfuncional e ineficaz diante dos abusos de autoridade”. O autor fala abertamente em lawfare — uso estratégico das leis para fins políticos — e pede à CIDH que adote medidas cautelares urgentes, além de levar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A denúncia expõe as fraturas de um sistema em que nenhum dos Três Poderes parece disposto a conter excessos — e, por vezes, atua como agente deles. Enquanto isso, opositores, jornalistas e cidadãos comuns dizem viver sob o temor constante de punições, censuras e perseguições judiciais, sem que haja canais internos efetivos para contestar abusos. Ao chegar à OEA, o caso lança um alerta internacional sobre os rumos da democracia brasileira, agora questionada não apenas por seus críticos internos, mas também diante dos fóruns internacionais de direitos humanos.

