STF manda recado à oposição escancarando lado político

Por Victório Dell Pyrro

Em meio à crise política que transformou o plenário da Câmara em palco de confrontos explícitos na noite de ontem, o Supremo Tribunal Federal aproveitou a instabilidade para fazer o que vem se tornando um hábito: mandar recado direto à oposição, com a ajuda do seu já conhecido entregador de mensagens na imprensa, a GloboNews, desta vez com o jornalista Valdo Cruz.

Enquanto Hugo Motta (Republicanos-PB) ainda era impedido de reassumir a presidência da Câmara, ministros do STF – segundo Valdo – se perguntavam, com desdém e ironia: “São esses baderneiros que desejam voltar à Presidência da República?”. A frase, vazada de propósito para ser reproduzida na mídia aliada, revela mais do que desprezo político pelo lado opositor– escancara o espírito partidarizado da mais alta Corte do país, que age abertamente como força de contenção política da direita, o que é inconstitucional.

A avaliação “entre interlocutores de ministros” – como costuma eufemizar o repórter quando publica recados encomendados – é que a tentativa da oposição de retomar protagonismo institucional confirma o “perfil autoritário e golpista” dos apoiadores de Jair Bolsonaro. Um rótulo que a Corte já colou na direita brasileira e do qual não pretende abrir mão, mesmo diante de contradições jurídicas gritantes contestadas e de perseguições evidentes, segundo a direita, denunciadas mundo afora.

O STF, ao que parece, não se veria mais como um tribunal constitucional, mas como uma instância moral e política acima dos poderes, onde ministros decidem quem pode ou não participar do jogo democrático, denunciam os opositores. No lugar do equilíbrio, o julgamento prévio. No lugar da técnica, o discurso inflamado contra “os baderneiros”, sem que ninguém nem nenhum partido tenha questionado a Corte sobre o assunto. Foi iniciativa própria de deixar claro que possuem lado político e são contra a oposição ao governo Lula. Diga-se de passagem, para os mais esquecidos, que foi o STF que mudou de opinião para soltar Lula da cadeia e depois anulou todas as robustas provas de corrupção do atual presidente alegando suspeição de Sérgio Moro baseada em documentos de um falsificador notório que tentava vender mensagens roubadas ou produzidas em uma invasão hacker a grupos dos investigadores da Lava Jato.

Valdo Cruz, fiel à sua função de cronista da linha direta entre Supremo e redação, descreve fielmente como os ministros classificam os opositores de “verdadeiros ditadores” por defenderem um ex-presidente acusado de planejar um golpe – acusação que ainda será julgada, mas que já tem sentença política pronta. Sabe qual?

No mesmo texto, Valdo entrega o conteúdo estratégico da narrativa do STF: Bolsonaro será julgado em setembro e nada poderá impedir isso. Nem articulação política, nem eventual Proposta de Emenda Constitucional. Para os ministros, qualquer tentativa da oposição de mudar o jogo institucionalmente será tratada como sabotagem à democracia — ironicamente, sob o aplauso dos que apoiam a censura, desde que seja contra os outros, os que caçam mandatos e intervêm em CPIs sem o menor constrangimento.

No Brasil de 2025, quem define o que é golpe são justamente os que nunca enfrentaram as urnas. Nunca tiveram um voto sequer.

O STF transformou-se no guardião de uma democracia tutelada, onde a vontade popular intimidada só é legítima se vier com o carimbo da Corte. Qualquer tentativa de reequilibrar os poderes é tachada de ataque ao estado de direito – e não faltará um Valdo Cruz para correr aos estúdios e noticiar recados como verdades absolutas.

No fim das contas, o Supremo não manda apenas recados. Segundo até um ex-integrante, Marco Aurélio Mello, ele dita as regras do jogo e ainda escolhe quem pode jogar. O resto é considerado “baderna”.

Ah, e quem ousar discordar, sabe que pode virar réu antes mesmo de abrir a boca, imagine escrevendo um texto desses? Deus nos proteja.


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