Vazamento de informações são consideradas tentativas de aniquilar Bolsonaro politicamente, dusem aliados
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão indignados com os vazamentos de informações de conversas privadas e movimentação financeiras do ex-mandatário. Eles acreditam que o ministro Alexandre de Morars está por trás desses vazamentos.
” São conversas particulares, até com palavras duras entre pai e filho e outras informações que só tem um interesse público: acabar de vez com Bolsonaro, avalia um senador da República em anonimato.
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e indiciou que o magistrado é o responsável por conta da divulgação das mensagens trocadas entre seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o irmão Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que foram incluídas em relatório divulgado pela Polícia Federal (PF) na quarta-feira (20).
O senador classificou a atitude do magistrado como “asquerosa” e disse que as mensagens “não têm nada a ver”, sendo usadas apenas para atacar o ex-presidente.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi um dos que criticaram abertamente os vazamentos.
“Primeiro, eu não vou
comentar, é uma conversa
privada de pai para filho, é
uma questão que só interessa
aos dois, e eu nem sei por que
essas conversas foram
divulgadas”, completou.
“Realmente, não vejo interesse
público nisso,” disse Tarcísio.
Um relatório da Polícia Federal, com dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro movimentou a impressionante quantia de R$ 30,5 milhões em suas contas bancárias entre março de 2023 e fevereiro de 2024. O documento, que faz parte de investigações sobre suspeitas de lavagem de dinheiro e outros ilícitos, detalha as principais origens e destinos dessas transações.
Origens dos Recursos
- R$ 19,2 milhões vieram por meio de mais de 1,2 milhão de transações de doações via Pix, principalmente de apoiadores.
- R$ 8,7 milhões foram obtidos em 52 resgates de aplicações financeiras (CDB/RDB).
- R$ 1,3 milhão originaram-se de operações de câmbio.
- R$ 373,3 mil referem-se a proventos do próprio Bolsonaro.
- R$ 304 mil foram resultado de 203 transferências bancárias.
- R$ 166 mil, de resgates de aplicações diversas.
- R$ 99 mil advieram de previdência privada.
Destino das Transações
Durante o mesmo período, quase todo o dinheiro foi sacado ou transferido: R$ 30.595.430,71 saíram das contas do ex-presidente, e boa parte desses recursos foi destinada ao pagamento de advogados e transferências para familiares, como seu filho Eduardo Bolsonaro e sua esposa, Michelle Bolsonaro. Segundo o relatório, escritórios de advocacia receberam cerca de R$ 6,6 milhões.
O documento detalha também repasses suspeitos: de maio de 2025, uma transferência de R$ 2 milhões para Eduardo Bolsonaro, para financiar sua estadia nos Estados Unidos, e uma operação de cerca de R$ 3 milhões para Michelle Bolsonaro, supostamente para protegê-la de um possível bloqueio de contas.
Suspeitas de Ilícitos e Lavagem de Dinheiro
Apesar de não ter apontado diretamente a origem ilícita dos recursos, o relatório registra cerca de 50 comunicações de movimentações atípicas, sendo oito delas envolvendo diretamente Bolsonaro, Eduardo e Michelle. O Coaf identificou operações suspeitas que, segundo a PF, podem configurar lavagem de dinheiro e outros crimes econômicos.
A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por tentativas de coação no curso do processo e por suspeita de tentar abolir o Estado Democrático de Direito. As grandes movimentações financeiras passaram a ser analisadas por conta desses processos.
Defesa e Repercussão
Até o momento, a defesa de Jair Bolsonaro não apresentou esclarecimentos públicos sobre a movimentação financeira e não comentou oficialmente o conteúdo do relatório. O ex-presidente sempre afirmou ser alvo de perseguição política, mas as investigações continuam em curso e estão sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório foi encaminhado oficialmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e serve como base para o indiciamento do ex-presidente e de seu filho Eduardo Bolsonaro por crimes como coação no curso processual e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
A legislação e o dever de sigilo
Segundo a legislação brasileira, informações bancárias e conversas privadas só podem ser divulgadas mediante autorização judicial. O artigo 10 da Lei Complementar 105/2001 protege o sigilo bancário, enquanto a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) reforça o dever de cuidado com informações sensíveis, especialmente por autoridades e servidores públicos. O descumprimento acarreta sanções penais, civis e administrativas, incluindo demissão (Lei 8.112/1990) e até reclusão, se houver dolo ou prejuízo comprovado. A divulgação de prints de conversas privadas – ainda que contenham impropérios como “vtnc” – pode gerar indenização, de acordo com a jurisprudência do STJ, salvo se for fundamental para defesa de direito ou comunicação de crime.
Quem vazou? Houve autorização judicial?
A divulgação do conteúdo do relatório da Polícia Federal e dos dados sigilosos de Bolsonaro não tem autoria conhecida nos meios públicos. Os principais veículos jornalísticos vêm publicando excertos das investigações, mas todos alegam que o relatório foi encaminhado formalmente ao STF – órgão máximo do Judiciário brasileiro. Não há menção explícita, em nenhum dos documentos ou reportagens disponíveis até o momento, de uma decisão judicial autorizando a exposição detalhada das transações ao público .
O que se sabe:
- A quebra do sigilo bancário e a obtenção dos dados financeiros de Bolsonaro foram autorizadas pelo STF para fins de investigação.
- A divulgação integral e detalhada ao público, inclusive valores, transferências e citações de envolvidos, não tem registro de autorização judicial formal.
- Não há informação oficial sobre qual servidor, delegacia, gabinete ou instância vazou os relatórios para a imprensa.
- Os repórteres em geral citam “acesso ao relatório”, sem detalhar o canal pelo qual obtiveram as informações.
Responsabilidade e consequências
Se comprovado o vazamento sem autorização expressa da Justiça, o responsável pode responder por violação de sigilo funcional (art. 325 do Código Penal), improbidade administrativa e indenização civil pelos danos causados.
No contexto atual, a explicitação de conteúdo sensível e de mensagens particulares obtidas em perícia de celulares (exemplo: mensagens privadas com xingamentos) amplia o debate sobre a necessidade de proteger direitos fundamentais mesmo em situações de grande interesse público.


