Fraude no CNU: como família criou império milionário com concursos

A família de Wanderlan Limeira de Sousa está no centro de uma das maiores fraudes já desmanteladas no Concurso Nacional Unificado (CNU), envolvendo a aprovação criminosa de vários parentes e aliados em cargos públicos de alto prestígio.

Os detalhes revelados pela investigação policial e pelo Ministério Público Federal, com nomes, papéis e o passo a passo da operação mostram como a famíliaenriqueceu com as fraudes.

Quem são os envolvidos

No epicentro da trama está Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar de Patos (PB) e apontado como líder do esquema de fraudes que favorecia toda a sua família.

A organização criminosa era formada por:

-Wanderlan Limeira de Sousa, líder da quadrilha e pivô das articulações

-Valmir Limeira de Souza, irmão de Wanderlan, aprovado junto com ele no concurso do CNU, também responde por fraudes em outros certames.

-Antônio Limeira das Neves, irmão de Wanderlan e agente penitenciário em São Paulo, tentou expandir o esquema para concursos da Polícia Federal.

-Wanderson Gabriel de Brito Limeira, filho de Wanderlan, preso em julho de 2024 por fraude no concurso da Polícia Militar da Paraíba, quando uma candidata foi flagrada com ponto eletrônico recebendo respostas em tempo real; transações financeiras o ligam diretamente ao pai.

-Larissa de Oliveira Neves, sobrinha de Wanderlan (residente em São Paulo), que viajou especificamente para Patos para fazer o CNU, repetindo o padrão de gabarito idêntico aos tios.

-Ariosvaldo Lucena de Sousa Junior, policial militar no Rio Grande do Norte, dono de uma clínica odontológica investigada por lavagem de dinheiro do esquema.

Como funcionava o esquema

A quadrilha se valia de confiança familiar para sofisticar suas operações. O núcleo agia desde o recrutamento de candidatos até o repasse de gabaritos sigilosos e a movimentação dos valores obtidos ilegalmente. Os métodos evoluíram do uso de pontos eletrônicos em provas (detectados em Operação Before, em 2024), para migração a técnicas mais avançadas no CNU, como transmissões e combinação de respostas para maximizar aprovações simultâneas entre parentes.

Os investigadores descobriram, por meio da análise dos gabaritos, que Wanderlan e Valmir acertaram exatamente as mesmas questões, em turnos distintos, algo estatisticamente impossível sem fraude. Larissa errou apenas uma questão a mais que ambos, apesar de residir em outro estado, evidenciando a ligação.

Os aprovados movimentaram milhões de reais em vantagens indevidas.

Chegada da polícia e desmantelamento

O caso ganhou tração após denúncia anônima contra Wanderlan Limeira de Sousa à Polícia Federal (PF), que imediatamente requisitou os gabaritos à banca organizadora.

O cruzamento estatístico dos resultados, associado ao padrão de viagens e transações financeiras entre os envolvidos, foi decisivo para o avanço da apuração. Em especial, foram interceptadas conversas entre Valmir e Wanderlan sugerindo atribuir os crimes a um homem morto (Ygor Thales Morais Félix, executado em junho de 2025), na tentativa de desviar o foco policial.

A Operação Before (julho de 2024) já havia levado à prisão de Wanderson Gabriel e Bianca Paskelina Pereira Freire, esposa de outro criminoso do grupo e integrante de facção criminosa, ambos flagrados usando ponto eletrônico em provas. A PF evoluiu na investigação e conseguiu a reconstrução completa do esquema familiar e suas ramificações, inclusive em outros concursos.

Histórico da quadrilha

O histórico de Wanderlan inclui acusações por homicídio, roubo majorado, uso de documento falso, peculato, concussão e abuso de autoridade, além de aprovações fraudulentas em concursos anteriores.

O grupo já havia sido alvo de apurações na Caixa Econômica, Banco do Brasil, Universidade Federal da Paraíba e polícias civis de Pernambuco e Alagoas.Riscos e prejuízosSegundo a PF, o impacto da fraude vai além do prejuízo financeiro, pois servidores despreparados aprovaram-se para carreiras de auditor fiscal do trabalho – com salário inicial de R$ 22 mil – e cargos estratégicos de segurança, tributação e sistema financeiro.


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