Trump sugeriu ‘salvo-conduto’ ao grupo terrorista para policiar o enclave e impedir a ascensão de outras facções.
Enfraquecido após mais de dois anos de guerra e sob pressão para entregar as armas, o grupo terrorista Hamas enfrenta desafios como a perda de hegemonia em Gaza para outras facções criminosas e clãs locais antigos.
Desde que o acordo de cessar-fogo com Israel entrou em vigor, na semana passada, os terroristas do Hamas buscam se reafirmar em Gaza – um conflito recente com membros de um clã rival matou dezenas de oponentes do grupo.
A repressão parece contar com o apoio velado do presidente Donald Trump, artífice do acordo de paz. Na segunda-feira, ele sugeriu ter dado sinal verde para que o Hamas conduzisse operações de policiamento e controle social interno para “resolver os problemas”.
Questionado por um jornalista a bordo do Força Aérea Um sobre relatos de que o Hamas estava se instituindo como uma força policial e atirando em rivais, Trump disse: “Eles querem acabar com os problemas, têm sido abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”.
“Temos quase 2 milhões de pessoas voltando para prédios que foram demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. Então, queremos que seja… queremos que seja seguro. Acho que vai ficar tudo bem. Quem sabe ao certo?”, disse Trump.
Num cenário de terra arrasada e vácuo de poder, observadores internacionais temem que um conflito interno possa aprofundar o desastre humanitário em Gaza.
Os principais clãs cujos membros entraram em confronto com as forças do Hamas nos últimos dois anos:
Clã Abu Shabab
Yasser Abu Shabab, baseado na região de Rafah, é o mais proeminente líder de clã anti-Hamas. Ele opera em uma parte do sul de Gaza ainda ocupada por forças israelenses.
De acordo com uma fonte próxima a Abu Shabab, seu grupo recrutou centenas de combatentes oferecendo salários atrativos. O Hamas o acusa de colaborar com Israel, acusação que ele nega.
Seu clã é um grupo beduíno centrado na região leste de Rafah. Não está claro se todo o clã apoia as ações de Abu Shabab. Estima-se que sua força pessoal seja de cerca de 400 homens.
Clã Doghmosh
O clã Doghmosh é um dos maiores e mais poderosos da Faixa de Gaza e, historicamente, conta com um arsenal poderoso. Os líderes do clã veem as armas como uma necessidade cultural para defender suas terras. Seus membros têm afiliações com vários grupos militantes palestinos, incluindo o Fatah (partido que controla a Autoridade Palestina, sediada na Cisjordânia) e o Hamas.
Mumtaz Doghmosh, um importante líder do clã, liderou anteriormente o braço armado dos Comitês de Resistência Popular na Cidade de Gaza. Mais tarde, ele formou o “Exército do Islã”, que declarou lealdade ao Estado Islâmico.
O Exército do Islã foi uma das facções, juntamente com o Hamas, envolvidas no ataque transfronteiriço de 2006 que levou ao sequestro do soldado israelense Gilad Shalit, posteriormente libertado em uma troca de prisioneiros.
O paradeiro de Mumtaz Doghmosh é desconhecido desde antes do início da guerra, em 7 de outubro de 2023. O Hamas já entrou em confronto com o clã no passado devido à sua recusa em se desarmar e ao sequestro de um repórter britânico pelo Exército do Islã.
Combatentes do Hamas entraram em confronto com membros do Doghmosh no último domingo (12) e na segunda-feira (13). Muitos membros do clã foram mortos, juntamente com alguns combatentes do Hamas, de acordo com fontes de segurança. Não há evidências de que Mumtaz Doghmosh tenha participado dos confrontos recentes, visto que ele não é visto em público nem se ouve falar dele há alguns anos.
Clã Al-Majayda
Este grande e poderoso clã está centralizado em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. Seus membros chegaram a entrar em confronto com combatentes do Hamas nos últimos meses.
No início de outubro, o Hamas invadiu a área do clã para prender homens que, segundo ele, eram procurados por matar membros do Hamas. Seguiu-se um tiroteio, resultando em várias mortes de ambos os lados, segundo o Hamas e membros do clã.
Fontes próximas ao clã negam as acusações do Hamas de que seus membros tenham ligações com o Abu Shabab. Elas acusam o Hamas de usar o ataque como pretexto para assassinatos seletivos, citando um documento que alegam ter recuperado dos corpos de combatentes do Hamas mortos durante o ataque.
No entanto, na segunda-feira, o chefe do clã divulgou uma declaração nas redes sociais afirmando apoio à campanha de segurança lançada pelo Hamas para manter a lei e a ordem em Gaza, instando os membros do clã a cooperarem. O clã tem membros com diferentes afiliações, incluindo o Fatah e o Hamas.
Clã Rami Hellis
O clã Hellis é um grande clã na Cidade de Gaza, com sede no subúrbio de Shejaia. Há alguns meses, um membro sênior do clã, Rami Hellis, e Ahmed Jundeya, membro de outro grande clã de Shejaia, formaram um grupo que opera em oposição ao Hamas em partes de Shejaia que ainda estão sob controle do Exército israelense.

