Novos documento liberados pelos EUA citam depoimento ao FBI com diversas menções ao Brasil.
Novos documentos divulgados em dezembro de 2025 pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos reacenderam o debate no Brasil ao mencionar um “grande grupo brasileiro” e ligações com o universo da moda, em especial por meio do agente francês Jean‑Luc Brunel ligado a Jeffrey Epstein e agências com atuação no país, supostamente envolvidas.
Jeffrey Epstein, financista americano condenado por crimes sexuais, morreu em 10 de agosto de 2019, em uma prisão federal em Nova York, em um caso oficialmente tratado como suicídio por enforcamento enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual de menores.
O “grande grupo brasileiro” nos arquivos de Epstein
Os arquivos liberados em 19 de dezembro de 2025, após determinação do Congresso dos EUA, incluem anotações manuscritas de uma entrevista feita pelo FBI em 2 de maio de 2019, na qual aparece a expressão “Grande grupo brasileiro”.

O contexto é um depoimento sobre possíveis vítimas recrutadas para encontros sexuais, incluindo menores, em que o entrevistado descreve redes de “amigos de amigos” e menciona esse grupo sem detalhar nomes ou empresas, pois boa parte do texto está tarjada.
No mesmo conjunto de notas, há referências a uma “modelo que acabou de vir do Brasil” e ao “retorno ao Brasil”, sugerindo movimentação de jovens brasileiras nesse circuito, mas sem identificação direta de marcas ou companhias específicas.
As anotações destacam ainda a descrição de uma menina que teria “vivido com a mãe aos 13, saído de casa aos 14”, além de menções a “festa brasileira” e “desfile brasileiro” em legendas de fotos; novamente, nomes de pessoas e locais foram ocultados pelas tarjas.


Jean‑Luc Brunel e as agências de modelos
A conexão mais documentada entre o caso Epstein e o universo da moda passa por Jean‑Luc Brunel, ex‑agente de modelos francês citado como parceiro de Epstein em investigações americanas.
Brunel foi cofundador da agência francesa Karin Models, criada em 1977, e da MC2 Model Management, nos Estados Unidos, empresa que recebeu apoio financeiro direto de Epstein, incluindo uma linha de crédito de 1 milhão de dólares, segundo depoimento da ex‑contabilista da MC2 Maritza Vasquez.
Documentos da Justiça dos EUA apontam que Brunel recrutava jovens, algumas com 13 anos, prometendo contratos internacionais e levando-as de avião da França para os EUA para encontros vinculados à rede de Epstein.
Grandes varejistas norte‑americanos, como Nordstrom, Macy’s, Saks Fifth Avenue, Neiman Marcus e outras redes, aparecem como clientes da MC2 ou de agências com laços com Brunel, o que levou a preocupações internas sobre a reputação dessas marcas quando as denúncias de tráfico sexual se intensificaram.
A passagem de Brunel pelo Brasil e a Mega Model Brasília

Brunel esteve no Brasil em 2019, pouco antes da queda definitiva de Epstein. Segundo esses relatos, ele viajou ao país em busca de “novas modelos para levar aos Estados Unidos”, visitando agências e realizando castings, inclusive em Brasília, onde foi na sede da Mega Model Brasília.
Em uma publicação de 2019, a Mega Model Brasília divulgou imagem e vídeos de Brunel em seu espaço, com a legenda de que ele “esteve aqui hoje para um casting para levar os nossos modelos para Nova Iorque”, e que ele e a equipe “sempre serão bem‑vindos à nossa casa”.
O diretor da agência, Nivaldo Leite, declarou posteriormente que Brunel “apenas foi na agência fazer uma visita e conhecer a estrutura”, que nenhum modelo viajou com ele, e que a empresa não teria sido procurada por autoridades brasileiras sobre o assunto; ele afirma não conhecer Brunel nem Epstein, nem sequer de nome, à época.
Menções ao Brasil em viagens e perfis de vítimas
Os arquivos divulgados também incluem montagens com destinos de viagem de Epstein em que o Brasil aparece como um dos pontos de passagem, embora os locais exatos e datas específicas não estejam claramente detalhados nos documentos tornados públicos até agora.
Além das referências ao “grande grupo brasileiro”, há descrições físicas que evocam traços associados a brasileiras, como “pele mais escura” e “aparência amazônica”, em relatos sobre uma jovem levada “no final, em momento de desespero”, quando os envolvidos estariam “ficando sem garotas”.
Um trecho das anotações diz que Epstein não queria “spanish or dark girls”, ao mesmo tempo em que se interessava por determinadas modelos, incluindo uma que teria “acabado de vir do Brasil”, por quem estaria “realmente apaixonado” e sobre a qual teria falado em fazer um esboço ou pintura.[3] O depoimento cita ainda que Epstein pedia documentos de identidade para conferir se as meninas tinham menos de 18 anos, pois desconfiava das idades informadas, revelando uma busca deliberada por menores de idade.
Morte de Epstein e de Brunel
Jeffrey Epstein foi preso em 6 de julho de 2019, em Nova York, acusado de tráfico sexual de menores na Flórida e em Nova York, em um processo federal que reabria e ampliava denúncias já ventiladas desde meados dos anos 2000.
Em 10 de agosto de 2019, ele foi encontrado inconsciente em sua cela no Metropolitan Correctional Center e declarado morto em um hospital local; a perícia oficial do condado de Nova York classificou o caso como suicídio por enforcamento, ainda que a morte tenha alimentado inúmeras controvérsias públicas.
Jean‑Luc Brunel, apontado por vítimas como recrutador e facilitador da rede de Epstein no mercado da moda, foi preso na França no contexto de uma investigação formal por assédio sexual e estupro contra jovens de 15 a 18 anos.
Em 2022, ele foi encontrado morto em sua cela em Paris, em um episódio que também foi tratado pelas autoridades francesas como suicídio, encerrando uma das principais fontes de informação direta sobre a interface entre a indústria da moda e o esquema de exploração sexual de Epstein.
Reações no Brasil e pontos em aberto
Após a divulgação dos novos documentos em dezembro de 2025, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Itamaraty encaminharam questionamentos da imprensa à Polícia Federal, que respondeu apenas que “não se manifesta sobre investigação em curso”, sem confirmar nem negar procedimentos específicos sobre o elo brasileiro do caso.
Até o momento, não há confirmação pública de que o “grande grupo brasileiro” citado nas anotações do FBI corresponda a uma empresa nominalmente identificada, nem de que empresários brasileiros da moda tenham sido formalmente investigados, o que mantém a discussão em um terreno de forte repercussão política e social, mas de detalhes oficiais ainda limitados.
Em paralelo, veículos estrangeiros e especializados em moda destacam que o caso Epstein expôs vulnerabilidades estruturais do setor, como o uso de agências e “promessas de carreira internacional” para recrutar jovens de países periféricos, inclusive o Brasil, em um ambiente de forte assimetria de poder.
A pressão de familiares de vítimas, organizações de direitos humanos e parte da opinião pública segue pela revelação integral dos arquivos e pela identificação de todos os intermediários — financeiros, empresariais e ligados à moda — que se beneficiaram da rede criminal articulada por Epstein e seus parceiros.




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