Morre Brigitte Bardot, símbolo da rebeldia no cinema e da causa pet

Brigitte Bardot morreu aos 91 anos neste domingo 28), em sua casa em Saint-Tropez, no sul da França. Ícone absoluto do cinema europeu do pós-guerra, ela se tornou um dos rostos mais reconhecíveis do século XX, símbolo de liberdade, sensualidade e ruptura de costumes, antes de abandonar definitivamente a indústria cinematográfica para se dedicar à defesa dos animais. A morte foi confirmada por sua fundação, que informou que a atriz enfrentava problemas de saúde recentes após uma cirurgia.

Nascida em Paris, em 1934, Bardot começou a carreira ainda adolescente como modelo, chegando à capa da revista Elle aos 15 anos. A consagração veio em 1956, com o filme “E Deus Criou a Mulher”, dirigido por Roger Vadim, que escandalizou a sociedade da época e a transformou em um fenômeno internacional. A personagem livre, sensual e desafiadora marcou uma virada na representação feminina no cinema e projetou Bardot como um símbolo sexual global, influenciando moda, comportamento e linguagem corporal em uma geração inteira.

Brigitte Bardot teve quatro maridos: Roger Vadim, Jacques Charrier, o milionário Gunter Sachs e o industrial Bernard d’Ormale, seu companheiro até os últimos dias.

Ela também se relacionou com atores como Jean-Louis Trintignant e Sami Frey; e músicos como Gilbert Bécaud, Serge Gainsbourg e Sacha Distel.

Essa sucessão de relacionamentos, vivida sem discrição e sem pedido de desculpas, contribuiu para que Bardot fosse vista como símbolo de autonomia feminina em plena revolução sexual.

Ao longo de pouco mais de duas décadas, Brigitte Bardot participou de cerca de 50 filmes e trabalhou com alguns dos principais diretores europeus. Entre seus trabalhos mais lembrados estão “A Verdade”, “O Desprezo”, “Viva Maria!”, “Amar é Minha Profissão” e “Histórias Extraordinárias”. Sua atuação transitava entre o drama intenso e a comédia sofisticada, sempre carregada de uma presença magnética que dispensava excessos técnicos.

Em 1967, Bardot iniciou uma carreira paralela como cantora, com relativo sucesso. Em parceria com Serge Gainsbourg, gravou músicas que se tornaram populares na França, como “Harley Davidson” e “Bonnie and Clyde”.

No auge da fama, cercada por paparazzi e sob constante pressão da indústria e da opinião pública, decidiu se afastar do cinema em 1973, aos 38 anos, após concluir o filme “Don Juan”.

O abandono precoce da carreira artística marcou o início de uma transformação radical em sua vida. Já sensibilizada pela causa animal desde o início dos anos 1960, Bardot passou a dedicar todas as suas energias ao ativismo.

Em 1986, fundou a Fundação Brigitte Bardot, que se tornaria uma das organizações mais influentes da Europa na defesa dos direitos dos animais. A entidade atuou em campanhas contra a caça de focas, o uso de animais em circos, touradas, testes laboratoriais, transporte cruel para abate e o abandono de cães e gatos, além de manter abrigos e apoiar projetos de preservação em diversos países.

A nova fase consolidou Bardot como uma referência mundial na proteção animal, mas também a colocou no centro de controvérsias. Ao longo das últimas décadas, ela foi condenada judicialmente na França por declarações consideradas ofensivas e discriminatórias, especialmente relacionadas à imigração e a minorias, o que gerou críticas e dividiu opiniões sobre seu legado público. Mesmo assim, sua imagem como defensora intransigente dos animais permaneceu forte, especialmente entre ativistas e organizações ambientais.

Reclusa em Saint-Tropez desde a aposentadoria, Brigitte Bardot viveu longe dos holofotes que ajudou a criar, mantendo uma rotina dedicada aos animais e à fundação que levava seu nome.

Além do cinema, deixou também uma marca na música, com dezenas de canções gravadas nos anos 1960, e na cultura popular brasileira, sendo eternizada como musa da cidade de Búzios, no litoral do Rio de Janeiro.

A morte de Brigitte Bardot encerra a trajetória de uma figura que atravessou o cinema, a revolução comportamental do pós-guerra e o ativismo contemporâneo. Amada, criticada e sempre intensa, ela permanece como um personagem incontornável da história cultural do século XX, cuja vida pública foi marcada tanto pelo brilho das telas quanto pela opção radical de trocar a fama mundial por uma causa que considerava maior do que qualquer aplauso.