Enquanto a PF fala em lavagem de dinheiro, Porsche e fraudes bilionárias, descobrimos que o petistas e aliados foram lobistas de luxo da Contag responsável pelo afano do dinheiro de desprotegidos
Por Victório Dell Pyrro
Por essas e outras é que o Brasil merece um prêmio na arte da ironia. No país onde “defender a democracia” virou sinônimo de proteger quem mete a mão no bolso de aposentado, parlamentares do Partido dos Trabalhadores e aliados resolveram bancar o lobista da Contag — entidade investigada pela Polícia Federal pelos maiores desvios milionários de dinheiro dos velhinhos aposentados e doentes do INSS.
Não foi pouco: 96 emendas para sabotar uma medida provisória que tentava combater justamente as fraudes previdenciárias. Isso mesmo. Quase uma centena de tentativas parlamentares para impedir que as autorizações de desconto no benefício de velhinhos fossem revalidadas anualmente. Afinal, nada mais antidemocrático do que perguntar uma vez por ano ao aposentado se ele ainda quer ter dinheiro arrancado do seu benefício sem perceber, não é?
E o argumento foi aquele clássico petista: tudo é feito em nome do Estado Democrático de Direito. Quem é você, cidadão comum, para discordar? Afinal, se o aposentado perder dinheiro, paciência. Democracia é mais importante do que feijão. O PT defende mesmo, ora veja só, é sindicato metendo a mão no benefício alheio. Tudo em nome do Estado Democrático de Direito.
Sim, você não leu errado: fraudar aposentado virou um ato democrático.
E para justificar essa vergonha? Um delírio jurídico digno de tese universitária escrita depois de quatro doses de cachaça: revalidar anualmente o desconto seria “inconstitucional” e uma ameaça ao Estado Democrático de Direito. Veja bem: pedir ao aposentado que confirme, uma vez por ano, se ainda deseja ser descontado é, segundo o PT, um crime contra a Constituição. Agora, meter a mão escondido, sem ele saber, isso é autonomia cidadã.
A melhor parte? As emendas foram assinadas pelos parlamentares, mas redigidas pela própria Contag. Lobby raiz. A digital da entidade aparece escancarada nos metadados dos arquivos. Jean Paul Prates, Paulo Rocha, Marcon, Patrus Ananias, Zé Neto, entre outros iluminados do PT, atuaram como despachantes de luxo da confederação. E, de brinde, ainda arrastaram aliados do MDB e PSD na lambança.
“Cumpre observar, que o texto constitucional erigiu a liberdade associativa ao status de direito fundamental, em seu artigo 5º, incisos XVII a XXI e artigo 8º, revelando a preocupação do constituinte de 88 em proteger e fomentar o associativismo, garantindo, desta forma, a atuação da sociedade civil na defesa dos próprios interesses e, ainda, na defesa do próprio Estado Democrático de Direito”, diz o documento que só pode ter sido escrito por um bêbado, redigido pela Contag e apresentados pelos parlamentares.
E tudo por quê? Porque revalidar anualmente as autorizações seria “inviável”. Pobrezinhos. Uma burocracia insuportável para quem quer garantir o fluxo contínuo de bilhões de reais entrando na conta. Foram mais de R$ 6 bilhões roubados descobertos até agora.
A Contag, que embolsou cerca de R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024 só com esses descontos associativos, virou quase uma fintech previdenciária. Mas, segundo os deputados do PT, isso é só fruto da “livre organização da sociedade civil”. Vai discordar? Cuidado, você pode ser acusado de atacar autoridades com injúrias.
Enquanto isso, a Polícia Federal encontrou golpes nada republicanos: lavagem de dinheiro, desvio de grana para agência de turismo que compra Porsche e Dodge novinhos em folha, e um presidente da entidade atuando como dono do INSS — mandando desbloquear lotes inteiros de benefícios para enfiar desconto na aposentadoria alheia.
O mais bonito foi ler na justificativa das emendas um discurso sobre “autotutela” e “independência cidadã”. Que belo conceito: o aposentado paga sem saber, o sindicato embolsa, políticos fazem pose democrática, e agências de turismo saem acelerando Porsche por aí. Tudo muito cidadão, tudo muito participativo. Participativo… menos para quem realmente pagou a conta com o trabalho de uma vida inteira.
No fim, resta uma certeza: o PT não tem medo de ser feliz, tudo com muito amor, mesmo que seja de bandidos no olho do bolso dos aposentados, especialmente quando se trata de defender estruturas suspeitas de sugar pobres. E claro, tudo isso embalado no slogan sagrado: “em defesa da democracia”.
Não foi só o INSS que foi assaltado. Foi o conceito de decência que foi saqueado, carregado em malas e transformado em carrões e mansões milionárias pagos à vista, longe dos olhos das vítimas.

