R$ 807 mil para o nada: a farra das funcionárias fantasmas de Hugo Motta expõe o esgoto dos gastos públicos no Congresso
Por Victório Dell Pyrro
A Câmara dos Deputados, que deveria zelar pelo dinheiro do contribuinte e pela moralidade administrativa, continua sendo palco de escândalos fantasmagóricos.
Desta vez a “surpresa” vem do próprio presidente da Casa.
Gabriela Batista Pagidis, fisioterapeuta de 30 anos, recebeu R$ 807,5 mil em salários como “secretária parlamentar” do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), sem jamais exercer de fato a função.
Gabriela Batista Pagidis, fisioterapeuta de 30 anos, está lotada como secretária parlamentar no gabinete de Hugo Motta (Republicanos-PB) desde 1º de junho de 2017. Nesse período, o salário dela variou de R$ 1.550,66 a R$ 16.714,06.
Antes de ser fantasma de Hugo Motta, Gabriela foi nomeada em 5 de fevereiro de 2014 na mesma função no gabinete do ex-deputado federal Wilson Filho, hoje secretário de Educação da Paraíba e aliado do presidente da Câmara. Se somar ambos os períodos como funcionária fantasma, a remuneração supera R$ 890,5 mil.
Em vez de auxiliar o parlamentar no batente legislativo, Gabriela trabalha tranquilamente em duas clínicas de fisioterapia em Brasília e circula livremente pela cidade em horário de expediente da Câmara. De segunda a quinta-feira, tem agenda garantida com pacientes no Instituto Costa Saúde e no Centro Clínico Bandeirantes. Na sexta passada, foi flagrada na academia e, à tarde, se deu ao luxo de visitar o Zoológico — tudo isso enquanto, no papel, deveria estar servindo ao interesse público no gabinete de Motta.
A cereja do bolo: Gabriela, segundo registros públicos, cursou fisioterapia integral na UnB entre 2014 e 2019 e ainda teve tempo para duas pós-graduações, uma no UniCEUB e outra na própria UnB. Uma jornada incompatível com a rotina de uma secretária parlamentar que, supostamente, deveria estar à disposição do gabinete.
Mas Gabriela é só a ponta de um iceberg de cinismo. Outras duas funcionárias fantasmas também integram a equipe de Hugo Motta:
Louise Lacerda, filha de um ex-vereador paraibano, estuda medicina em tempo integral em João Pessoa, a mais de 2 mil km de Brasília.
Monique Magno, há quatro anos é assistente social na Prefeitura de João Pessoa, mesmo período em que figura como contratada do gabinete de Motta.
O custo da farsa: quando o servidor público não serve a ninguém
Somando os valores recebidos por Gabriela também durante sua passagem anterior pelo gabinete do ex-deputado Wilson Filho (outro aliado de Motta), o total embolsado chega a R$ 890,5 mil em dinheiro público. Quase R$ 1 milhão pagos a alguém que, na prática, nunca serviu ao povo.
E esse não é um caso isolado. O orçamento da Câmara dos Deputados para 2025 já supera os R$ 7,5 bilhões, dos quais R$ 3,6 bilhões são destinados exclusivamente a folha de pagamento de servidores. Grande parte desses cargos são de natureza comissionada e de livre nomeação, ou seja, escolhidos por cada parlamentar, sem necessidade de concurso.
Há atualmente mais de 14 mil secretários parlamentares nomeados por 513 deputados federais — média de 27 assessores por gabinete. A pergunta que não cala: quantos realmente trabalham?
A resposta da Câmara: uma nota, um deboche
Em nota, a assessoria de Hugo Motta tentou justificar o inexplicável:
“O presidente Hugo Motta preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara”.
Ou seja, Gabriela poderia atender pacientes, fazer academia, visitar zoológicos e ainda constar como funcionária pública porque “trabalha remotamente”. Se isso não é um escárnio, o que mais seria?
O teatro da impunidade continua em cartaz
O caso das fantasmas de Hugo Motta é apenas mais um capítulo de uma novela suja chamada “Brasil Oficial”. Enquanto milhões de brasileiros enfrentam filas no SUS, cortes na educação, desemprego e fome, o dinheiro público banca a boa vida de políticos, de amigos, parentes e aliados desviando dinheiro de cargos que só existem no papel.
Nos corredores do Congresso todos sabem com quem fica esse dinheiro. Uma servidora que não quis se identificar disse que “quando é fantasma o deputado passa 10% para a pessoa fantasma, mas pior são as rachadinhas que a gente trabalha e vai mais da metade para o deputado” , disse.
Afinal, para uma parte da elite política brasileira, o Congresso não é uma casa legislativa — é uma agência de empregos milionários para apadrinhados invisíveis que lhes rende aumentode ganhos. E quem paga a conta? Você.

