Lula impõe derrota ao Congresso no IOF, veta aumento de deputados e reforça narrativa pró-povo

Por Victório Dell Pyrro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atravessa um momento raro de força política diante do Congresso Nacional. Em un dia, emplacou duas vitórias de impacto: manteve a cobrança do IOF sobre transações internacionais com a ajuda do Supremo Tribunal Federal (STF) e vetou a proposta que aumentaria o número de deputados federais. Tudo na tentativa de reverter sua impopularidade.

As duas decisões, ainda que distintas em mérito, convergem na estratégia: manter-se alinhado à opinião pública enquanto expõe o Legislativo como defensor de privilégios.

Com Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara e Davi Alcolumbre (União-AP) no Senado, o Congresso busca se reposicionar, mas encontra dificuldades diante de uma base fragmentada e sem narrativa unificadora. Enquanto isso, o Planalto avança.

Vitória sobre o IOF

A cobrança do IOF sobre transações internacionais, como remessas e gastos no exterior, foi feita por decreto do governo federal e derrubada pelo Congresso. O STF deu ganho de causa ao governo. O movimento visa recompor receitas dentro do novo arcabouço fiscal.

O problema para o Legislativo foi político: a medida afetava apenas uma parcela da população com renda mais alta, no discurso do governo. A tentativa de derrubar o IOF foi lida pela sociedade como um gesto de defesa de privilégios. O governo, por sua vez, explorou essa narrativa com habilidade.

Veto ao aumento de deputados

Em seguida, Lula vetou integralmente a proposta que aumentaria de 513 para 531 o número de deputados federais. A justificativa técnica do projeto era a readequação das vagas conforme a nova distribuição populacional apontada pelo Censo. No entanto, a repercussão pública foi devastadora: aumento de parlamentares significaria mais gastos com salários, gabinetes, estrutura e fundo eleitoral.

O veto foi não apenas técnico, mas sobretudo político. Lula afirmou que “o povo brasileiro não quer mais parlamentares, quer mais políticas públicas”. A declaração sintetizou com precisão o espírito do momento. Em tempos de desconfiança nas instituições, a decisão agradou até críticos do governo.

Congresso desarticulado, Planalto em alta

O atual Congresso, sob a liderança de Motta e Alcolumbre, ainda não conseguiu imprimir marca política. Diferente da era Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, quando as pautas passavam por lideranças fortes e blocos bem definidos, o Legislativo de 2025 parece desconectado e sem direção.

O governo aproveita esse vácuo. Com uma base razoavelmente coesa e uma comunicação estruturada, Lula conseguiu transformar decisões impopulares para setores específicos em gestos populares para o público geral.

Pesquisas internas do centrão apontam que mais de 80% da população se opõe ao aumento do número de deputados. A manutenção do IOF, apesar de contestada por alguns, não gerou desgaste entre os eleitores médios que se esquecem que pagam iof no créditodo cartão. Ao contrário, fortaleceu a imagem de um presidente que impõe limites.

Lula encontrou a narrativa; o Congresso ainda procura a sua

O presidente da República encontrou um discurso potente: o da r”esponsabilidade fiscal” aliada à sensibilidade social. Optou por gestos públicos de confronto com excessos políticos. Isso, em um país cansado de escândalos e privilégios, rende capital político.

O Congresso, por outro lado, padece de um mal crônico: falta de conexão com as demandas reais da sociedade. A proposta de aumentar o número de deputados é politicamente desastrosa. Ao insistir nessa pauta, o Legislativo reforça a própria caricatura de uma instituição cara, inchada e pouco produtiva.

O veto será derrubado. Mas mesmo que o Congresso consiga revertê-lo, Lula já terá vencido no plano simbólico. Terá dito “não” aos excessos e deixado os parlamentares com o desgaste de dizer “sim”.

Conclusão

O embate IOF e deputados marca uma virada no jogo político de 2025. O governo soube aproveitar o momento. O Congresso, por sua vez, ainda busca se reencontrar. O risco para os parlamentares é ficarem aprisionados na imagem de sempre: a de quem legisla para si mesmo.


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