O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) suspendeu nesta semana, em decisão inédita, os contratos com a financeira Crefisa devido a uma série de denúncias graves envolvendo coação de aposentados, prática de venda casada, portabilidades não autorizadas e outras irregularidades em serviços prestados a beneficiários recém-ingressos no sistema. A medida ocorre menos de um ano após a Crefisa arrematar 25 dos 26 lotes do leilão da folha de pagamento do INSS, tornando-se responsável pelo pagamento da quase totalidade dos novos aposentados e pensionistas do país.
Centenas de reclamações motivam suspensão
Segundo comunicado oficial do INSS, a decisão foi tomada após “centenas de reclamações” de beneficiários e entidades de defesa do consumidor. Os relatos envolvem desde abertura compulsória de contas para recebimento de proventos, venda casada de produtos financeiros, obstrução na portabilidade e atrasos no pagamento, até restrições para saques e falta de atendimento adequado em agências. O Ministério Público Federal, órgãos de defesa do consumidor e a Ordem dos Advogados do Brasil também pressionaram o INSS por providências.
A autarquia afirma que a suspensão é “cautelar”, voltada à proteção do público mais vulnerável do sistema previdenciário, e abrange principalmente pagamentos de novos benefícios. Os contratos de crédito consignado já firmados continuam em vigor, mas serão alvo de revisão caso sejam identificadas irregularidades.
Histórico: concentração de mercado e alerta de especialistas
A Crefisa passou a controlar praticamente a folha de novos pagamentos do INSS após vencer, em outubro de 2024, a disputa para administrar 25 dos 26 lotes regionais. Apenas o lote do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ficou com outro banco, o Mercantil. A concentração preocupou entidades como o Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), que cobram mais fiscalização e garantias de concorrência e atendimento de qualidade.
Outras investigações expõem problemas sistêmicos
O episódio ocorre em meio a operações da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal que apuram descontos não autorizados, fraudes e prejuízos bilionários em contratos de empréstimos consignados e cobranças indevidas contra aposentados nos últimos anos. O INSS informou que revisa contratos e abrirá procedimento interno para ressarcir beneficiários lesados e evitar novas práticas abusivas.
Posição da Crefisa
Procurada, a Crefisa negou irregularidades, disse estar colaborando com as investigações e destacou investimentos em estrutura física e canais digitais de atendimento. Até o momento, contudo, não foi publicado comunicado detalhado sobre as acusações.
A suspensão dos contratos marca uma resposta contundente do INSS diante do volume de denúncias e da gravidade das condutas atribuídas à financeira. Especialistas e entidades de classe alertam para a necessidade de maior regulação e transparência em contratos que envolvem a população idosa e mais vulnerável do país, em especial diante da alta concentração de mercado gerada pelas últimas licitações.

