Pesquisadores encontram traços do vírus em pacientes sem sintomas e pedem vacinação para o grupo de risco, predominantemente de homens que fazem sexo com homens
Um caso inédito no atual surto de varíola dos macacos foi reportado em um homem de 40 anos, na Alemanha. De acordo com a revista médica Infection, parte do nariz do paciente apodreceu em razão do sistema imunológico dele estar abalado por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) anteriores.
O homem procurou um clínico geral apresentando uma ferida vermelha na ponta do nariz. O médico, entretanto, considerou que era apenas uma queimadura de sol e o mandou voltar para casa. Três dias depois, a pele na região começou a ficar inchada, escura e dolorosa. No mesmo período, apareceram feridas com pus branco no corpo do paciente, que provocaram dores intensas no pênis e na boca dele.
Ao realizar um teste PCR, o alemão recebeu o diagnóstico de varíola dos macacos e buscou um hospital para receber medicações antivirais. Lá, foi submetido a outros exames e descobriu que tinha sífilis e era portador do vírus HIV. De acordo com o relato do paciente, ele nunca havia realizado testes para ISTs antes.
Os médicos responsáveis pelo diagnóstico afirmaram que o vírus da varíola dos macacos provocou a necrose no nariz do paciente devido ao HIV não tratado. O processo de necrose ocorre quando tecidos do corpo começam a morrer devido à falta de circulação de sangue e oxigênio.
os profissionais de saúde informaram que os glóbulos brancos do homem estavam em quantidade tão baixa quanto a de pessoas com AIDS.
A equipe que atendeu o paciente destaca que casos assim podem se tornar mais frequentes na medida em que o vírus se espalha pelo mundo.
No surto atual da varíola dos macacos, a principal forma de transmissão do vírus monkeypox tem sido pelo contato com as feridas de pessoas infectadas. Até o momento, a maioria dos pacientes desenvolve sintomas como cansaço, fadiga e febre, mas o sinal principal são as lesões semelhantes a pústulas com pus. Porém, pesquisadores descobriram que alguns indivíduos podem ter o vírus e continuar assintomáticos.
Como parte de um serviço de vigilância em pacientes que tomam medicamentos contra o HIV ou o PrEP (preventivo), os médicos do hospital Bichat-Claude Bernard, em Paris, na França, recolheram amostras do ânus de 200 pacientes homens usando um swab. O exame mostrou que 6,5% dos participantes (13 pessoas) testaram positivo para a varíola dos macacos.
Os responsáveis pelo levantamento escreveram, em artigo publicado na revista científica Annals of Internal Medicine, que, apesar de não se saber o risco de transmissão, os resultados confirmam a necessidade de vacinar o grupo considerado de risco para evitar que mais pessoas sejam infectadas.
Para a maioria das pessoas, o risco de contrair varíola permanece baixo. Quase todos os casos no surto atual – 98% – ocorreram em homens adultos que fazem sexo com homens. Então, como o vírus está se espalhando? Estudos de surtos anteriores sugerem que o vírus da varíola dos macacos é transmitido de três maneiras principais: através do contato direto com a erupção cutânea de uma pessoa infectada, tocando objetos e tecidos contaminados ou por gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. Há também evidências de que uma mulher grávida pode espalhar o vírus para o feto através da placenta.