Falsas mensagens vendidas por estelionatarios, como se fossem roubadas de um grupo de conversas no Instagram, da operação Lava Jato, para o The Intercept, com intermediação de Manuella D’Ávila foram liberadas por Ricardo Lewandowisk, ministro do Supremo Tribunal Federal, (STF) na ajuda ao crime organizado.
É isso mesmo que você leu. Material sabidamente falsificado, adulterado e alegadamente roubado por hackers e que foi vendido com o intermédio da então deputada federal, Manuela Davilla, com a única intenção de livrar o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva da cadeia, está funcionando sob a tutela do ministro Ricardo do STF.
Lewandowski autorizou o compartilhamento de mensagens supostamente roubadas de Deltan Dallagnol na ação em que Lula pede uma indenização por causa da apresentação de um PowerPoint em que o então coordenador da Lava Jato apresentou as acusações contra ele.
Em março, o STJ condenou o ex-procurador a pagar R$ 75 mil ao petista.
A defesa de Lula havia pedido que o material ilegal, obtido a partir da ação de hackers, fosse enviado à Corte.
Nas conversas atribuídas a Deltan, ele estaria discutindo a criação de um fundo irrigado com dinheiro de suas palestras, para arcar com eventuais ações de indenização na Justiça.
Vale sempre a pena lembrar um texto de J. R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 1º de julho de 2021. Diz ele:
“A empreiteira de obras públicas Odebrecht, uma das que mais roubou no governo Lula — é a empresa que revelou ao mundo o “amigo do amigo do meu pai” —, assinou um notável acordo com a Justiça brasileira em que confessa a prática de crimes de corrupção, promete devolver ao erário público uma parte do que roubou e, em troca desse seu misto de colaboração-delação-confissão, recebe do Estado um tratamento mais suave na punição dos seus delitos.
Ninguém forçou a Odebrecht a fazer nada. Foi o seu próprio presidente, com a assistência plena de toda uma equipe milionária de advogados, quem concordou em fazer “delação premiada” a respeito dos crimes cometidos na esfera de atuação da empresa — especialmente na ladroagem monumental da Petrobras lulista. Também foi a construtora, por sua livre e espontânea vontade, que devolveu R$ 8,6 bilhões aos cofres públicos. Em função do acordo, o presidente Marcelo Odebrecht foi solto da cadeia em dezembro de 2017, após dois anos e meio de xadrez em Curitiba.
Qual é a dúvida em relação a isso tudo? Existe no mundo alguém que aceita devolver R$ 8,6 bilhões de dinheiro roubado – mais de US$ 2,5 bilhões, pela cotação da época — se não roubou nada? Há alguém que invente crimes para delatar a si mesmo? Não há nada de errado com nenhuma dessas coisas. Ao contrário, trata-se de um momento histórico: foi feita justiça neste Brasil onde sempre reinou, durante séculos, a impunidade para os ricos e poderosos.
Não, não há mesmo nada de errado — salvo para o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal. Em compensação, para ele, está tudo absolutamente errado. O ministro acha que esse exemplo de justiça é tão ruim, mas tão ruim, que tem de ser anulado da primeira à última letra. Isso mesmo: nada do que Odebrecht confessou, delatou e pagou vale mais coisíssima nenhuma. Só está faltando dizer, agora, que o pagador de impostos tem de devolver à empresa os bilhões que ela pagou para fechar o seu acordo.
Não se trata de nenhum surto de loucura — ou, mais precisamente, é loucura com muito método. Lewandowski quer, acima de qualquer outra coisa na vida, eliminar até o último fiapo qualquer culpa que existe contra Lula — condenado, como se sabe, em terceira e última instância, por nove juízes diferentes, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Atuando em conjunto, e em perfeita harmonia, com os ministros Gilmar Mendes e Edson Fachin, ele opera na equipe de advogados que trabalha em tempo integral para Lula no mais alto tribunal de Justiça do Brasil. Deixaram de lado, há anos, a função de juízes, pagos pelo público para prover justiça. Seu trabalho, com o pleno apoio dos demais colegas de STF, é servir aos interesses processuais, políticos e eleitorais do ex-presidente.
Lewandowski, Gilmar, Fachin e os demais decidiram não apenas anular todas as ações penais contra Lula, mas apontar como único culpado por tudo o juiz Sergio Moro — e, agora, declarar inválidas todas as provas reunidas contra ele, para que nunca mais possam ser utilizadas em qualquer processo que se tente fazer para retomar os que foram anulados. Mesmo provas como a confissão de Marcelo Odebrecht? Sim, mesmo provas como a confissão de Marcelo Odebrecht.
Lewandowski, Gilmar, Fachin etc. são o retrato acabado do tipo de justiça que se pratica no Brasil de hoje — dentro das “instituições”, da pregação diária da “democracia” e dos alertas diários sobre a “ditadura” que virá se Lula perder a eleição de 2022.”