Exportadores brasileiros não precisarão usar o dólar para fazer suas transações comerciais com a China
Durante um seminário que aconteceu em Pequim, capital da China nesta quarta-feira (29), um acordo entre os bancos centrais do Brasil e da China foi anunciado pelo Ministério da Fazenda do Brasil. Segundo o governo brasileiro, os bancos tupiniquins também poderão passar a usar o sistema de pagamentos do banco central da China. “Esse é um esforço para reduzir os custos de transação”, disse Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda.
O seminário da área econômica foi organizado para marcar a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na China, com o envolvimento de mais de 240 empresários, mas, Lula não pôde ir para o país asiático, por conta de uma pneumonia.
Praticamente todos os anúncios que seriam feitos pelo governo foram adiados para aguardar a presençade Lula, inclusive tratados sobre tecnologia.
Mas o Ministério da Fazenda não esperou Lula se recuperar e durante a abertura do encontro, o governo federal explicou que o novo entendimento cambial tem como meta ajudar a reduzir os custos entre os dois países.
O país já é há anos, o maior parceiro comercial do Brasil em volume de vendas. Os produtos brasileiros exportados para a China e aqueles que vêm de lá são, atualmente, de naturezas variadas: o Brasil é o primo pobre e burro e exporta basicamente commodities primários, minérios, grãos e carnes. Já a China, exporta itens manufaturados, de maior valor agregado, prontos ou em peças a serem montadas aqui, além de outras tecnologias.
A China é a maior economia de exportação do mundo. Só no ano de 2017, a exportação da China resultou em US $ 2,41 Trilhões, tornando o país o maior exportador do mundo.
Quando falamos em números, em 2007 a China já havia superado a Alemanha na lista das maiores economias do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos em tamanho de PIB. Porém, as exportações da China, influenciaram Pequim, a acumular a maior reserva em moeda estrangeira do mundo, que somam mais de US$ 2 trilhões e apesar disso, os chineses, a maior população no planeta, vivem desigualdades e estão sob regime cruel.
Segundo o Ministério da Fazenda do Brasil, a nova modalidade cambial para os exportadores brasileiros na China, não se trata de uma obrigação. Para o exportador que desejar, o comércio pode continuar sendo realizado em dólares. Mas para aqueles que optarem por realizar a venda entre reais e Renmi.
A “clearing house” deve ser estabelecida em um banco chinês no Brasil, que passou a ser designado pelo BC de Pequim. A China conta com o mesmo sistema em diversos países do mundo, entre eles Chile e Argentina.
Se a meta brasileira é reduzir os custos da transação, Pequim considera tal iniciativa como uma tentativa de reduzir sua dependência e exposição em relação à moeda norte americana, principalmente diante da tensão cada vez maior entre os EUA e a China na disputa pela hegemonia em diversas regiões.
Segundo o Ministério da Fazenda, a iniciativa já tinha sido fechada entre os dois bancos centrais no final de janeiro. Mas só agora está sendo anunciada.
Outro acordo permitirá ainda que bancos brasileiros possam participar do sistema de pagamentos no mercado financeiro chinês.
A China já é o maior destino das exportações nacionais, com um peso determinante para o superávit comercial do Brasil.
Brasil e China podem ficar mais próximos ainda por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que busca acesso a créditos asiáticos para financiar projetos de infraestrutura e transição de matriz energética no Brasil.
Os acordos estão em fase final e poderiam terem sido assinados durante a visita de Lula nesta semana, mas os governos decidiram adiar o anúncio. Na comitiva do presidente Lula também estaria o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Natália Dias, diretora de Mercado de Capitais do BNDES, afirmou na segunda-feira em Pequim que o atual desembolso do banco é de R$ 100 bilhões. Isso representa 0,7% do PIB nacional e bem abaixo da média do que era destinado pela instituição para a economia brasileira.
A meta é a de chegar a 2% do PIB, o que significaria ultrapassar a marca de R$ 200 bilhões.
Um dos caminhos, segundo ela, é na busca de acordos bilaterais ou com instituições multilaterais. Natália Dias ainda aponta que existem, em processo de negociação, um volume de US$ 5 bilhões em empréstimos bilaterais. Metade desse valor viria de bancos asiáticos.
No caso chinês, a ideia é de que o financiamento também poderia auxiliar a alavancar projetos de infraestrutura que estão sendo liderados por empresas de Pequim e que, hoje, o Brasil ainda não tem como viabilizar.
O saldo na balança comercial entre os 2 países tem o histórico de superavit, com destaque para os últimos 7 anos. O recorde se deu em 2021, quando as exportações brasileiras superaram as importações com a China em US$ 43,4 bilhões –considerando valores corrigidos pela inflação.
Curiosamente, o último déficit da balança comercial do Brasil em relação à China foi no último governo Lula, registrado em 2008, ainda no 2º mandato presidencial do petista: US$ 4,8 bilhões.