Michelle, mãe de Carlinho fala pela primeira vez sobre assassinato do filho e relata rotina de agressões na escola sem respostas de professores e diretores e descaso no atendimento médico
Além do bullying violento, negligência de professores e diretores e do sistema de saúde do município podem ter causado a morte de Carlos Teixeira, o Carlinhos. Aluno do sexto ano de uma escola pública, que dançava break, adorava ir ao sítio e, mais recentemente, aprendeu a andar de patins.
“Meu filho era um garoto muito, muito doce. A vida dele era jogar no computador. Não saía para a rua, ficava só jogando”, diz Michele de Lima Teixeira, mãe de Carlinhos.
Nos últimos meses, a vida do menino mudou bastante. Ele saiu de um colégio e estava estudando na Escola Estadual Julio Pardo Couto, em Praia Grande, no litoral paulista.
Carlinhos contou para a mãe que achou a escola muito diferente da anterior e o motivo era a violência que acontecia lá dentro. Mas, por ser o maior da turma, queria ficar forte para poder defender os colegas menores dos agressores.
“Ele falou pra mim que não podia entrar no banheiro, porque quem vai para o banheiro apanha”, relata a mãe.
Pela primeira vez desde que perdeu o filho, Michele decidiu falar. Ela não conseguiu voltar para a própria casa, onde vivia com Carlinhos, o marido e a filha.
Ela conta que o filho sofreu uma agressão física dentro da escola em março e, na ocasião, a família quis tirar ele de lá.
“Foi por causa de um pirulito. O menino arrancou da mão dele e, quando ele pediu de volta, o menino deu dois socos no nariz dele. O arrastaram pelo pescoço e foi para dentro do banheiro,” disse.
Carlinhos contava tudo à família. Os pais procuraram a direção do colégio, exigindo providências e falaram em tirar Carlinhos de lá.
“Ele falou assim: ‘Mãe, eu não quero sair porque eu sou o maior da minha turma’. Falava isso porque os amigos dele eram menores, pequenininhos, e ele era grandão pela idade que tem. Ele falou que queria defender os amigos. Ele falou: ‘mãe, eu quero ficar forte. Quero correr. Corre comigo’. Eu falei que ia correr com ele, mas não corri”, disse a mãe.
Carlinhos completou 13 anos dois dias antes da sua morte.
O garoto estava dentro da sala de aula quando, segundo os pais, a constante perseguição chegou ao seu extremo: dois estudantes pularam com violência nas costas dele. O pai de Carlinhos gravou um vídeo com o filho, já em casa. Nele o adolescente reclama de dores. “Quando eu respiro, dói as costas”, disse, aos prantos.
Os pais correram com o menino para o Pronto-Socorro Central de Praia Grande, administrado pela prefeitura. Ele foi atendido e liberado cinco vezes.
“Meu filho não fez um exame de urina, não fez nada. Meu filho gemendo por falta de ar, sem respirar”, relembra a mãe.
Ele foi levado, então, para outro posto de saúde municipal. Mas não melhorou.
A prefeitura informou que abriu um “processo administrativo para apurar os procedimentos adotados nos atendimentos. E se for constatada alguma irregularidade, as providências cabíveis serão tomadas”.
Só depois de cinco tentativas de pedido de socorro ao sistema de saúde, o adolescente foi finalmente atendido , mas já teve de ser internado na UTI da Santa Casa de Santos e, sete dias depois das agressões, teve três paradas cardíacas e morreu.
“Eu só estou aqui de pé por Deus porque eu sei onde o meu filho está. Meu filho está com Deus”, diz a mãe.