Novo sistema deveria agilizar os atendimentos presenciais às vítimas da burocracia previdenciária, mas falha já no início. Governo promete solução “ainda hoje”, e brasileiros torcem para que o milagre digital aconteça.
Por Victório Dell Pyrro
30 de maio de 2025
No que parecia ser um novo capítulo na história do atendimento previdenciário brasileiro, o primeiro dia de atendimento presencial à vítimas do INSS foi marcado por… nada. Ou melhor, por longas esperas, filas intermináveis, e computadores que insistiam em exibir a já clássica mensagem: “sistema fora do ar”.
Sim, o tão aguardado retorno do atendimento presencial, anunciado com pompa e circunstância pelo governo federal, estreou nesta sexta-feira com um show de instabilidades técnicas. Em todo o país, usuários do Instituto Nacional do Seguro Social relataram dificuldades no acesso aos serviços — ou melhor, relataram a total ausência deles.
O bug da esperança
O novo sistema, que deveria agilizar a vida de cidadãos já cansados de peregrinar por meses em busca de benefícios, entrou em colapso assim que foi ligado. Uma façanha digna de um Oscar da ineficiência digital. Não é qualquer tecnologia que consegue falhar simultaneamente em todos os estados brasileiros logo na estreia — há que se reconhecer o empenho.
Funcionários relataram que o sistema começou a apresentar lentidão desde as primeiras horas da manhã. Logo, tornou-se impossível registrar atendimentos, acessar cadastros ou processar qualquer tipo de pedido. O resultado? Milhares de brasileiros voltando para casa com a mesma dúvida na cabeça: “Será que se eu morrer antes da aposentadoria, ainda preciso agendar o velório pelo Meu INSS?”
Governo responde… do jeito de sempre
Em nota, o Ministério da Previdência Social informou que a instabilidade foi causada por uma “sobrecarga momentânea nos servidores”, o que, em bom português, significa que ninguém esperava que tantas pessoas realmente fossem procurar atendimento — afinal, quem se interessa por direitos sociais no Brasil, não é mesmo?
A promessa, claro, é que a situação “deve ser normalizada ainda nesta sexta-feira”. A frase, que virou um clássico do vocabulário governamental, soa quase como uma oração: “Senhor, que o sistema volte até as 18h, amém”. Enquanto isso, nas agências, a orientação informal aos usuários é simples: “Tente de novo na semana que vem”.
Crônica de um descaso eterno
Especialistas em gestão pública afirmam que o problema reflete a falta de planejamento e investimentos estruturais na Previdência Social. “Esse tipo de falha não é surpreendente. O sistema do INSS é complexo e, infelizmente, costuma ser tratado como um apêndice inconveniente do Estado”, afirmou um servidor que pediu anonimato — não por medo de retaliação, mas por vergonha mesmo.
E para piorar o quadro, soma-se a isso a avalanche de fraudes que, durante anos, drenaram recursos do INSS diante de um governo que, convenientemente, preferiu fechar os olhos. Milhares de aposentados foram vítimas de descontos indevidos, empréstimos que nunca solicitaram e falsas associações misteriosamente “autorizadas” a morder parte dos benefícios. O dinheiro roubado, diga-se de passagem, não caiu do céu — saiu do bolso de quem trabalhou a vida inteira. E agora, em vez de ressarcimento imediato, o cidadão ganha fila, desrespeito e um sistema que não carrega nem a própria página inicial.
O mínimo esperado é que o governo pague, com juros e correção, cada centavo desviado nessas fraudes. Porque se o Estado falhou vergonhosamente em proteger os idosos, que pelo menos não falhe em devolver o que permitiu que fosse roubado. E com pedido público de desculpas, se ainda sobrar alguma vergonha.
“Transformação digital” ou apenas maquiagem?
A grande ironia é que tudo isso ocorreu sob o discurso oficial de “modernização”. O governo divulgou vídeos promocionais mostrando servidores sorrindo, sistemas velozes e cidadãos satisfeitos. Uma verdadeira obra de ficção tecnológica. A realidade, no entanto, foi outra: um apagão digital em escala nacional.
O Brasil que tenta, mas tropeça
Enquanto países ao redor do mundo usam inteligência artificial para agilizar serviços públicos, o Brasil ainda luta para manter um simples servidor em funcionamento por mais de 10 minutos. Mas calma, a esperança é a última que morre. E no caso do INSS, ela parece ser imortal.
Se tudo der certo — e é um “se” com letras garrafais — o sistema pode voltar a funcionar ainda hoje. Ou amanhã. Ou em algum momento antes da próxima eleição.
Afinal, como diz o ditado reinventado à moda brasileira:
“Quem espera, cansa. Mas quem espera pelo INSS, desiste.”

