Por Victório Dell Pyrro
Brasília, 19 de julho de 2025
A escalada que levou à revogação de vistos de ministros do STF pelos Estados Unidos, sob a iniciativa de Marco Rubio, secretário de Estado de Donald Trump tem raízes profundas no desmonte da Operação Lava Jato, na libertação de Lula, no cerco judicial a Jair Bolsonaro, nas falas políticas de magistrados e, sobretudo, nos atos de vandalismo com pedidos de intervenção militar de 8 de janeiro de 2023, que envolveram invasão do Congresso, do Planalto e do STF por manifestantes bolsonaristas. Isso tudo englobando a geopolítica com declarações do atual presidente da República nos Brics.
De volta ao passado recente
O desmantelamento da Lava Jato, a partir de novembro de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) vedou a execução de pena após condenação em segunda instância e permitiu a liberdade do então preso por corrupção e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi o ponto de partida dessa jornada que agora impede 8 ministros do STF e o AGU de entrarem nos EUA.
Em março de 2021, o ministro Edson Fachin anulou as condenações da 13ª Vara de Curitiba, após declarar a incompetência da corte, seguida da declaração de suspeição do juiz Sérgio Moro pela Segunda Turma, com votos de Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia — ação apoiada por juristas como Vanessa Chiari e entidades garantistas, que apontaram parcialidade na condução dos processos. Consequentemente, Lula recuperou direitos políticos e retornou ao poder em 2022, enquanto diversas condenações da Lava Jato deixaram de ter efeito, apesar de confissões e delações que resultaram em devoluções de dinheiro furtado superiores a R$ 6 bilhões aos cofres públicos.
Gente graúda do próprio PT, como o ex-ministro Antonio Palocci, confessaram o roubo.
A confissão de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula (PT) e Dilma (PT), foi um dos marcos da Operação Lava Jato. Seu acordo de delação premiada foi homologado em 2018 pelo então juiz Sergio Moro, e os detalhes vieram a público em 2019, após o fim do sigilo. A seguir, estão os principais pontos do que ele revelou e devolveu:
Palocci acusou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de:
- Comandar o esquema de corrupção da Petrobras e de outras estatais, incluindo Caixa Econômica, BNDES e Ministério da Fazenda.
- Negociar pessoalmente propinas com empreiteiras, como a Odebrecht, em troca de contratos e financiamentos bilionários.
- Receber vantagens indevidas disfarçadas como doações eleitorais e palestras. Segundo Palocci, as palestras de Lula no exterior eram “moeda de troca” para favores no governo.
- Conluio com Emílio Odebrecht para garantir o controle da empresa Braskem no mercado e perpetuar o financiamento de campanhas do PT.
- Negociar diretamente valores e propinas com a Odebrecht, inclusive para garantir apoio do Congresso à reeleição de Dilma Rousseff e ao projeto de poder do partido.
- Acusou também o ex-presidente de ter conhecimento da compra do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá, além de reformas feitas com dinheiro de empreiteiras.
Valor devolvido por Palocci:
R$ 37,5 milhões: foi o valor efetivamente devolvido por Palocci como parte do acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
Esse montante representa valores de propina e enriquecimento ilícito acumulado durante sua trajetória nos governos petistas.
Até o encerramento da força-tarefa, em 2021, a Lava Jato havia recuperado mais de R$ 6,1 bilhões em acordos de delação e leniência.
O montante a ser devolvido em compromissos firmados ultrapassava R$ 14 bilhões, considerando parcelas ainda em pagamento.
PRINCIPAIS DELATORES E VALORES DEVOLVIDOS NA LAVA JATO:
- Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras)
Primeiro delator da Lava Jato (2014).
Valor devolvido: R$ 79 milhões.
- Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras)
Revelou propinas em contratos com a Sete Brasil e outras.
Valor devolvido: R$ 182 milhões (um dos maiores valores individuais da Lava Jato).
- Antonio Palocci (ex-ministro dos governos Lula e Dilma)
Acusou Lula e o PT de receberem bilhões em propina.
Valor devolvido: R$ 37,5 milhões.
- Léo Pinheiro (ex-presidente da OAS)
Implicou Lula no caso do tríplex do Guarujá.
Firmou acordo de delação com a PGR; valor exato de devolução não informado.
- Marcelo Odebrecht (ex-presidente da Odebrecht)
Revelou o “departamento de propinas” da empresa.
Valor devolvido: mais de R$ 70 milhões (pessoalmente); o grupo Odebrecht firmou acordo de leniência de R$ 2,7 bilhões.
- João Santana e Mônica Moura (marqueteiros do PT)
Admitiram pagamentos via caixa 2 para campanhas de Lula e Dilma.
Valor devolvido: cerca de R$ 30 milhões.
- Renato Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobras)
Confirmou propinas para partidos políticos.
Valor devolvido: R$ 20 milhões.
- Fernando Baiano (lobista)
Articulava contratos entre empreiteiras e a Petrobras.
Valor devolvido: R$ 25 milhões.
- Milton Pascowitch (lobista)
Intermediário entre a Engevix e a campanha de Dilma.
Valor devolvido: R$ 10 milhões.
- Executivos da Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, UTC, Engevix e outras
Mais de uma dezena de delatores entre empresários e diretores de empreiteiras.
Valores devolvidos por empresas (leniência): UTC (R$ 574 milhões), Camargo Corrêa (R$ 700 milhões), Andrade Gutierrez (R$ 1 bilhão).
Já a “Vaza Jato” teve papel decisivo na narrativa judicial do STF para enterrar a maior investigação contra corruptos no Brasil.
Em 2019, o hacker Walter Delgatti Neto vazou mensagens trocadas entre o então juiz Moro e procuradores, divulgadas por veículos como The Intercept Brasil, incluindo diálogos oferecidos pela deputada de esquerda Manuela D’Ávila. Para críticos, o episódio evidenciou conluio ilegal entre Moro e Ministério Público, servindo de base para as decisões de nulidade do STF.
Nesse cenário, o ministro Gilmar Mendes foi frequentemente decisivo em favor de Lula, suspendendo até processos fiscais fundamentados nas operações da Lava Jato e reforçando a impressão da direita, que culminou nos protestos de vandalismo.
Ah de se destacar que apesar de ser eleito e representante da direita, Bolsonaro teve papel importante para determinar o estrangulamento da Lava Jato.
O papel do ex-presidente Jair Bolsonaro no enfraquecimento e posterior desmonte da Operação Lava Jato foi complexo e cheio de contradições. Embora tenha sido eleito com um discurso anticorrupção e tenha convidado o juiz símbolo da Lava Jato, Sergio Moro, para ser seu ministro da Justiça, Bolsonaro acabou, na prática, sendo um dos principais agentes de esvaziamento político e institucional da operação.
A seguir, uma descrição cronológica e detalhada desse processo:
2018: a eleição com base no discurso anticorrupção
Bolsonaro venceu a eleição presidencial de 2018 com forte apoio de setores que defendiam a Lava Jato. Seu eleitorado via a operação como símbolo de moralização da política.
A nomeação de Sergio Moro como ministro da Justiça e Segurança Pública foi vista como um gesto claro de compromisso com o combate à corrupção.
2019: o início das tensões
Como ministro, Moro tentou aprovar medidas anticrime e anticorrupção, mas enfrentou resistência dentro do próprio governo, inclusive do Congresso aliado a Bolsonaro.
Bolsonaro passou a minar a autonomia de Moro, especialmente no controle da Polícia Federal, que era responsável por investigações sensíveis, inclusive envolvendo aliados do presidente.
O então presidente também elogiava e se reaproximava do Centrão, grupo político duramente atingido pela Lava Jato.
2020: fritura e demissão de Moro
Em abril de 2020, Moro pediu demissão acusando Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal, especialmente após a troca do diretor-geral da corporação.
A saída de Moro enfraqueceu a imagem anticorrupção do governo e marcou a ruptura definitiva entre o ex-juiz e Bolsonaro.
No mesmo ano, o procurador Deltan Dallagnol, um dos líderes da Lava Jato em Curitiba, passou a ser atacado por bolsonaristas nas redes sociais, com apoio de parlamentares da base.
2020–2021: o desmonte institucional da Lava Jato
Em fevereiro de 2021, o então procurador-geral da República Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro fora da lista tríplice, extinguiu oficialmente a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, incorporando-a ao Gaeco.
Bolsonaro elogiou o fim da operação:
“Não tem mais corrupção no meu governo, por isso a Lava Jato não tem mais razão de existir.”
Em paralelo, o STF passou a julgar a suspeição de Sergio Moro e posteriormente anulou as condenações de Lula, com votos de ministros que foram duramente criticados por bolsonaristas em 2019, mas passaram a ser poupados por parte da base bolsonarista após a saída de Moro do governo.
Ao final de seu governo, a Operação Lava Jato havia sido desmobilizada, descredibilizada por narrativas políticas de ambos os lados (esquerda e direita), e os principais agentes da operação — Moro e Dallagnol — estavam politicamente isolados ou judicialmente perseguidos.
Em 2023, ambos perderiam força política: Dallagnol foi cassado pelo TSE, e Moro passou a ser alvo de processos no STF e no CNJ.
Feitiço virou contra o feiticeiro
Entre 2022–2024, o ministro Alexandre de Moraes encampou várias medidas de restrição digital: multas e bloqueios de perfis ligados a apoiadores de Bolsonaro nas redes X, Facebook e Telegram, amplamente criticados por The Wall Street Journal, The New York Times e pela Electronic Frontier Foundation como censura digital.
Esses perfis criticavam decisões do STF que favoreceram Lula e após as eleições até questionavam a lisura do pleito que derrotou Bolsonaro em 2022.
Em 2023, revelou-se que essas ações se estendiam a perfis hospedados fora do Brasil — controle jurisdicional além das fronteiras, segundo as big techs. Em 2024, Moraes incluiu Elon Musk em inquérito e impôs multa diária de R$ 100 mil após ele restaurar contas bloqueadas; o episódio alcançou repercussão no Congresso dos EUA, evidenciando tensão internacional.
A briga entre Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes começou a se desenhar após a aquisição do Twitter (atual X) por Musk em outubro de 2022.
Em 27 de outubro de 2022, Elon Musk concluiu a compra do Twitter por US$ 44 bilhões, prometendo que a rede social voltaria a ser uma “praça pública” com mais liberdade de expressão.
Musk demitiu a equipe de moderação de conteúdo e promoveu mudanças nas políticas internas da plataforma.
A tensão escalou publicamente em abril de 2024, mas tem raízes mais profundas no debate sobre liberdade de expressão, censura e as decisões do STF contra perfis conservadores no Brasil. Musk acusou Moraes de ser ditador e mandar o antigo Twitter derrubar contas da direita brasileira em favorecimento a Lula e à esquerda.
O STF não se limitou à repressão digital do que considerava afronta à democracia. Em novembro de 2022, durante evento do Grupo LIDE em Nova York, Barroso reagiu a um apoiador bolsonarista com a frase “Perdeu, mané, não amola”, expressão que viralizou e foi relembrada nos atos de 8 de janeiro de 2023, escrita em batom na estátua “A Justiça”, em frente ao STF por uma manicure condenada a 14 anos de prisão por participação nos atos de 8 de janeiro, incluindo crimes como abolição do Estado Democrático de Direito e dano qualificado, apesar de nãoter adentrado nenhuma das sedes dos Três Poderes. Ela está cumprindo pena em regime domiciliar desde março, depois de deixar o sistema prisional.
A frase de Barroso é considerada antidemocrática, especialmente quando dita por um juiz que não deveria se posicionar em favor de uma ideologia em desfavor de outra.
Meses depois, em julho de 2023, enquanto presidia o TSE, Barroso declarou na UnB em Brasília que “nós derrotamos o bolsonarismo…”. A posição política de esquerda do ministro provocou duras críticas, inclusive do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que a qualificou como “infeliz, inoportuna e inadequada” e exigiu retratação, alertando para eventuais pedidos de impedimento em processos envolvendo Bolsonaro. Barroso nunca se declarou suspeito para julgar processos relativos.
O ponto de virada para violência ocorreu em 8 de janeiro de 2023, quando cerca de 4 mil manifestantes bolsonaristas invadiram o Congresso, o Planalto e o STF em tentativa explícita de golpe. O relator do processo aberto no STF, Alexandre de Moraes classificou os fatos como “terrorismo institucional”. Até julho de 2025, 1.687 pessoas haviam sido identificadas e processadas, de forma crescente. Em março de 2025, novas condenações elevaram o número de réus sentenciados em aproximadamente 480, com penas que variam de um a 17 anos de prisão, incluindo multas, proibição de uso de redes sociais e suspensão de direitos políticos. O senador Sérgio Moro manifestou preocupação com o rigor das penalidades, sugerindo revisão ou anistia a alguns condenados e defendeu a Lava Jato dos ataques sofridos pela operação, no STF.
A recente escalada aconteceu com a entrada de Eduardo Bolsonaro na crise.
A entrada do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na briga contra o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, foi gradual, ideológica e estratégica. Ao longo do tempo, ele radicalizou o discurso, se tornando um dos principais porta-vozes da ala bolsonarista contra o Judiciário e ganhando notoriedade internacional por suas declarações e articulações.
Ainda em 2019, Eduardo já manifestava desconfiança em relação ao STF, especialmente após decisões que barravam investigações contra políticos e críticas à Lava Jato.
Na esteira da saída de Sergio Moro do governo (2020), Eduardo começou a reiterar que o Judiciário era um “obstáculo” à pauta anticorrupção, principalmente pela atuação de ministros como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
Em uma das falas mais polêmicas de sua carreira, Eduardo Bolsonaro sugeriu a adoção de “um novo AI-5” (o ato institucional mais duro da ditadura militar) caso a esquerda “radicalizasse” no Brasil.
A declaração gerou forte reação de ministros do STF, do Congresso e da sociedade civil. Foi vista como ameaça autoritária e acabou sendo usada como argumento futuro por Moraes e outros ministros para monitorar e investigar bolsonaristas.
Com o avanço dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos no STF, Eduardo passou a atacar Alexandre de Moraes diretamente, chamando-o de “ditador” e “censor”.
Criticou abertamente a censura a parlamentares aliados, como Daniel Silveira, e apoiou os atos de 7 de Setembro de 2021, nos quais seu pai chegou a dizer que não mais cumpriria ordens de Moraes (fala depois recuada em nota escrita pelo ex-presidente Michel Temer, que havia indicadoMoraes ao STF.
Articulação internacional contra Moraes (2022–2024)
Eduardo intensificou sua atuação internacional, especialmente nos Estados Unidos, denunciando supostos abusos de poder do STF.
Participou de eventos conservadores, como a CPAC, e fez articulações com parlamentares norte-americanos, como Marjorie Taylor Greene, Matt Gaetz e Marco Rubio.
Foi peça-chave nos bastidores da construção da carta enviada ao Departamento de Estado dos EUA em 2024, que alertava sobre violações de direitos civis e censura no Brasil — foco das sanções anunciadas por Rubio em julho de 2025 contra ministros do STF.
Mesmo após a condenação de bolsonaristas envolvidos nos atos do 8 de janeiro, Eduardo nunca admitiu que houve tentativa de golpe, tratando os presos como “manifestantes” e “injustiçados”.
Reiterou diversas vezes que Moraes usava o inquérito para “perseguir opositores políticos” e chegou a questionar a legalidade das prisões preventivas e das quebras de sigilo autorizadas pelo STF.
Eduardo foi um dos principais aliados de Elon Musk na divulgação dos Twitter Files Brasil, que revelaram ordens de censura enviadas por Moraes e TSE à plataforma X.
Aproveitou o embalo das denúncias para reforçar a ideia de que Moraes “instaurou uma ditadura judicial” e que o Brasil precisava ser denunciado internacionalmente.
Seus vídeos criticando o STF viralizaram nas redes sociais da direita global, e ele passou a ser um referência internacional de oposição ao Judiciário brasileiro.
Trump entrou no circuito
A escalada da crise entre os Estados Unidos e o governo brasileiro — especialmente envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF), Elon Musk, Jair Bolsonaro e, mais recentemente, as sanções do senador Marco Rubio — ganhou novo fôlego a partir de movimentações geopolíticas de Luiz Inácio Lula da Silva e de articulações internacionais de Donald Trump.
A tensão se intensificou com o fator Trump-Bolsonaro após os anúncios de Lula sobre o BRICS e uma moeda alternativa ao dólar.
Durante uma reunião dos países do BRICS em abril de 2023, o presidente Lula da Silva voltou a defender com firmeza a criação de uma moeda comum entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A proposta:
Sugeriria reduzir a dependência do dólar americano no comércio internacional.
Ganhou apoio da China e da Rússia, mas gerou forte reação nos bastidores de Washington.
Foi lida por setores do governo norte-americano, especialmente o campo conservador ligado a Donald Trump, como um posicionamento do Brasil contra os interesses ocidentais.
Trump Classificou o BRICS como “aliança de inimigos da liberdade ocidental”.
Disse que “o Brasil caiu nas mãos de um sistema corrupto controlado por juízes ativistas e comunistas”.
Fez críticas indiretas à Suprema Corte brasileira, alinhando-se com críticas já feitas por Elon Musk, Tucker Carlson e senadores republicanos.
A partir de 2023, Trump retomou contato político com Jair Bolsonaro, que estava nos EUA desde o fim do mandato. Com isso:
Bolsonaro passou a frequentar eventos conservadores nos EUA e a conceder entrevistas em que reforçava a narrativa de “perseguição política” e censura no Brasil.
Donald Trump o trata como “vítima de uma fraude e de uma justiça ideologizada”.
Quando Elon Musk passou a divulgar os Twitter Files Brasil em abril de 2024, denunciando ordens secretas de censura por parte do ministro Alexandre de Moraes, Trump reagiu publicamente:
Disse que Musk estava “expondo a ditadura do Judiciário brasileiro”.
Reforçou que o Brasil precisava ser investigado por supressão de liberdades civis.
Eduardo Bolsonaro atuou como interlocutor direto entre congressistas norte-americanos e a oposição brasileira.
Jair Bolsonaro, mesmo sob investigação no Brasil, foi alçado ao posto de mártir do conservadorismo mundial, retratado como vítima de um “regime judicial”.
Vídeos, falas e aparições conjuntas com Trump e com líderes da direita europeia consolidaram Bolsonaro como um símbolo da narrativa contra o “globalismo judiciário” — ideia defendida por Steve Bannon e outros ideólogos da nova direita.
No âmbito do cerco judicial denunciado pelo entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, em julho de 2025 o STF determinou busca e apreensão em sua residência, apreensão do passaporte, impôs uso de tornozeleira, restrição de redes sociais e contato com agentes internacionais, alegando tentativa de golpe e articulação política com dissidentes americanos.
Em julho de 2025, como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump determinou a aplicação de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros como carne bovina, aço, suco de laranja e couro, afetando diretamente setores centrais da economia nacional.
Trump já estava cumprindo promessas de campanha de taxar produtos do mundo todo. A decisão foi anunciada oficialmente pela Casa Branca no dia 18 de julho de 2025, e o próprio Trump justificou a medida com base em razões ideológicas, comerciais e geopolíticas.
A medida de Trump não foi apenas comercial, mas política. Ele vinculou as tarifas a três fatores principais:
A aproximação do governo Lula com a China e a Rússia no âmbito do BRICS, especialmente após falas sobre uma moeda alternativa ao dólar;
A percepção de que o Brasil rompeu com os EUA em temas como liberdade de expressão, propriedade privada e aliança estratégica no continente;
O uso de tecnologia e dados sensíveis compartilhados com potências rivais, segundo relatório apresentado por aliados republicanos.
Governo brasileiro dobra aposta.
Logo após o anúncio das tarifas — que atingem setores como carne, aço e suco de laranja —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com ironia e deboche em uma entrevista a jornalistas no Palácio do Alvorada, no dia 18 de julho de 2025. Ele disse:
“Ele [Trump] deve estar com saudade da picanha brasileira. Vai ter que comer hambúrguer com tarifa.”
Lula imitou Trump:
“Qual é a lógica dele [Trump]? ‘Ah, não processem o Bolsonaro, parem com isso imediatamente!.’ Mandou o filho dele [Eduardo] para os EUA pedir por isso.”, ironizou Lula a Trump, Eduardo e Bolsonaro.
STF dobra aposta
Ontem, sexta-feira (19) o STF fez uma operação com a Polícia Federal determinando uso de tornozeleira eletrônica para Bolsonaro e outras restrições de liberdade.
Os EUA reagiram imediatamente
Essas ações brasileiras levaram, na noite de ontem, 18 de julho de 2025, à sanção externa por Marco Rubio, que determinou revogação de vistos de Alexandre de Moraes, Barroso, Gilmar Mendes, Fachin, Flávio Dino, Fux, Zanin e Cármen Lúcia, bem como de seus familiares, por suposta violação de direitos políticos e censura política de cidadãos americanos. Rubio acusou os ministros de liderarem uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, abrangendo supressão digital, perseguição legal e abusos judiciais.
O presidente Lula reagiu hoje, sábado (20), definindo a sanção como “chantagem política inadmissível” que fere a soberania nacional. A OAB e a Advocacia-Geral da União reforçaram que o Judiciário brasileiro não se curvará a pressões externas. Já Donald Trump, por meio de aliados em Washington, anunciou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e aprovou ambiente político favorável a Bolsonaro.
Este ciclo de acontecimentos refrata uma crise institucional e diplomática que mistura judicialização da política, censura digital, falas políticas de magistrados, repressões sistêmicas e retaliação externa. A convergência desses eventos, somados às consequências que recairão sobre o sistema político até 2026, sinaliza um ponto de ruptura na história contemporânea do Judiciário brasileiro. A resposta ao impasse determinará os contornos do equilíbrio de poder e da soberania institucional do Brasil em pleno século XXI.

