‘Turismo de guerra’: exército ucraniano recruta brasileiros para combates contra Rússia

Itamaraty fala em 9 brasileiros mortos e 17 desaparecidos

Desde o início da guerra em fevereiro de 2022, o governo ucraniano lançou uma campanha ativa para recrutar voluntários estrangeiros — incluindo brasileiros — para a Legião Internacional de Defesa da Ucrânia. A iniciativa se intensificou em 2025, com:

tradução para o português do site oficial de alistamento;

recrutadores brasileiros atuando em grupos de WhatsApp, Telegram e Signal;

promessa de salários de até R$ 25 mil mensais .

Conforme denúncias e relatos, os voluntários são convidados a arcar com os custos da viagem, pagar até cerca de R$ 3 mil ou US$ 1,5 mil para passagens e documentação, e muitas vezes são enviados imediatamente para o front de batalha, sem treinamento e com passaportes retidos .

Casos trágicos e relatos familiares

Um caso emblemático é o de Gabriel Pereira, 21 anos, mineiro que trabalhou como cobrador de ônibus. Ele foi recrutado via redes sociais, pagou cerca de R$ 3 mil pela viagem à Europa e chegou à Ucrânia no início de 2025. Após contato final com a família em 3 de julho, informou que participaria de missão considerada extremamente perigosa, sem instruções claras nem contato futuro. Em meados de julho, seu nome apareceu em listas de baixas divulgadas por perfis russos, e um amigo confirmou sua morte junto a colegas que permaneceram no front .

Ao todo, conforme o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, 9 brasileiros morreram no conflito até julho de 2025, e 17 estão desaparecidos, considerados mortos na prática diplomática .

Publicações dos recrutadores nas redes sociais divulgando a viagem. — Foto: Reprodução

Panorama geral e números

O Itamaraty informa que desde 2022 oito brasileiros foram oficialmente confirmados mortos e outros 13 estão desaparecidos (totalizando 21, segundo a contagem da DW), mas a imprensa de julho de 2025 refere a 9 mortos e 17 desaparecidos; as diferenças podem refletir atualização ou critérios distintos entre diplomacia e reportagens .

Estimativas indicam que até 100 brasileiros integrariam a Legião Internacional, embora não existam dados oficiais sobre o número exato .

Ao comparar com o recrutamento na Colômbia, que contou com cerca de dois mil voluntários, brasileiros representam um contingente menor, mas crescente com essa nova campanha .

Riscos e fragilidades do modelo de “turismo de guerra”

  1. Os voluntários são aliciados online, muitas vezes por promessas exageradas ou falsas, e enviados para zonas de conflito sem preparo.
  2. Passaportes retidos e ausência de suporte para repatriação ou reparações em caso de morte complicam o contato consular e o retorno do corpo ao Brasil .
  3. A promessa de valores altos nem sempre se concretiza, e o treinamento e suporte logístico frequentemente não são entregues conforme anúncios.
  4. Muitos voluntários são ex-militares ou reservistas brasileiros, o que facilita a mobilização, mas também expõe pessoas sem experiência em guerra moderna e alta letalidade .

Posição oficial e acompanhamento diplomático

O Itamaraty mantém contato com famílias de brasileiros mortos ou desaparecidos e oferece assistência consular (busca de informações, apoio na documentação, etc.). No entanto, não há manifestação oficial sobre a legalidade do recrutamento nem recomendações para evitar que outros brasileiros se envolvam nessas redes de aliciamento .

Já a Embaixada da Ucrânia no Brasil declarou reconhecer a participação de brasileiros na defesa do país e expressou gratidão, mas afirmou não responder a questões militares específicas .

Resumo dos principais dados

Mortos (Itamaraty até jul/25) 9 brasileiros
Desaparecidos (considerados mortos) 17 brasileiros
Brazileiros na Legião Internacional (estimativa) Até 100
Promessas de salário Até R$ 25 mil/mês
Custos de viagem R$ 3 mil a US$ 1,5 mil (pago pelo voluntário)
Treinamento prometido Frequentemente não fornecido
Apoio consular Itamaraty oferece assistência, mas há falhas na repatriação

Chamada por muitos de “turismo de guerra”, essa estratégia de recrutamento de brasileiros pela Ucrânia visa atrair voluntários com promessas financeiras e ideológicas, mas expõe muitas pessoas a riscos inéditos: deslocamento irregular, envio direto ao combate, falta de treinamento e suporte logístico, além de dificuldade para repatriação em caso de morte. Embora o Brasil registre oficialmente 9 mortos e 17 desaparecidos, os números absolutos e as circunstâncias refletem uma mobilização ainda informal, com impacto humanitário e legal significativo.


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