Hugo Motta o “Rei da Rachadinha” esculhamba Congresso com até procuração para chefe de gabinete sacar salários de funcionários

Dez funcionários e ex-funcionários do presidente da Câmara dos Deputados deram poderes para a chefe de gabinete movimentar o salário deles. Ela é ré por rachadinha

Por Victório Dell Pyrro

Brasília já teve de tudo: mensalão, petrolão, orçamento secreto. Mas Hugo Motta (Republicanos-PB), atual presidente da Câmara, resolveu inovar na esculhambaçao geral da República. Ele transformou seu gabinete numa espécie de banco clandestino onde os assessores entram com salário por procuração. E não venha me processar porque estou escrevendo sobre fatos levantados pelo Ministério Público e grandes veículos como Folha de São Paulo e Metrópoles.

A gerente da agência do Rei da Rachadinha é ninguém menos que sua chefe de gabinete, Ivanadja Velloso Meira Lima, que recebeu de pelo menos dez funcionários e ex-funcionários do gabinete poderes mais amplos que os do presidente do Banco Central.

Oito deles, generosos, autorizaram Ivanadja a sacar seus próprios salários. Sim, leitor: o sujeito finge que trabalha, o Congresso paga e quem decide o destino do dinheiro é a chefe interposta pelo dono do gado de manobra para desfalque no erário público. Dois desses servidores ainda estão no gabinete, provando que fidelidade ao esquema é critério mais importante que competência. Um nem pisa no gabinete, mas trabalha em uma fazenda no interior a milhares de kilometros do Congresso rachador. Sim escândalos de rachadinha pipocam nos gabinetes, mas ninguém vai preso e por isso agora surge até procuração para roubar.

No caixa da operação, passaram R$ 4 milhões em remunerações. Dinheiro público, claro — o mesmo que deveria pagar escolas, hospitais e estradas, mas que virou moeda de troca no balcão do Congresso vergonhosamente “rachador”. Enquanto o brasileiro rala para sobreviver com um salário mínimo, o próprio presidente da Câmara reinventa a velha apropriação de salários como modelo de gestão por procuração. Isso é mais que um escândalo e ninguém ainda saiu de camburão.

A cena é de puro deboche, escracho ou seja lá o que for: funcionários assinando procurações com poderes “amplos e ilimitados”, como se estivessem entregando não só a senha do banco, mas a chave da sua dignidade e até o cartão de crédito. É muita desfaçatez.

Ivanadja, por sua vez, é a verdadeira ministra da Fazenda do gabinete, decidindo quem saca, quem recebe e quem fica chupando o dedo. O Ministério Público investiga a mulher por esquema em outro gabinete. O gabinete de Motta parece passar ileso pelas investigações.

Ivanadja Velloso responde na Justiça Federal por suposto esquema de rachadinha no gabinete do deputado federal Wilson Santiago (Republicanos-PB), aliado de Hugo Motta. Ela é acusada de movimentar a conta de um ex-funcionário que jamais pisou em Brasília e que nem sequer sabia o valor do seu salário, tampouco o número da conta bancária.

Nesse caso em que se tornou ré na Justiça, Ivanadja Velloso também detinha uma procuração, assinada pelo funcionário fantasma, que lhe permitia efetuar saques e movimentar valores.

E o que faz Hugo Motta diante disso? Nada. Como faz com diversos encaminhamentos urgentes que ele senta em cima. Segue desfilando pela Câmara como se fosse estadista, quando na verdade é o patrono da prática mais mesquinha e vulgar da política nacional. Rachadinha não é acidente, é DNA. Não é vergonha, é método, é crime.

A prática vem de longe e chegou na presidência da Câmara. As procurações foram registradas em cartórios da Paraíba desde 2011, quando Hugo Motta assumiu o cargo de deputado federal pela primeira vez.

Se fosse condenado por estes crimes que vieram à tona, possibilidade remota, já que nem o STF, nem a PGR enxergam, Motta poderia até perder direitos políticos. Mas, convenhamos, sua biografia já está escrita: o presidente que conseguiu transformar a Câmara dos Deputados na casa da esculhambaçao geral pautada nas rachadinhas. Um personagem tão caricato que merecia estátua: Hugo Motta, sentado num trono de holerites, coroado como “Sua Excelência, o Rei da Rachadinha””.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *