Por Victório Dell Pyrro
“Macaco Ggordo é quem quebra galho”. Este ditado popular pode ser lido na íntegra sobre a gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) , atual presidente do Brasil.
Não bastasse ter sido eleito depois de ser sacado da prisão por obra do Supremo Tribunal Federal em manobra ilegal, segundo até ex-ministros, como Eliana Calmon do STJ, o ditado se emprega fortemente no uso do dinheiro público gerido por Lula.
E a piada de mau gosto já vem pronta: a produtora Macaco Gordo, controlada por Francisco “Chico” Kertész, sócio do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, recebeu R$ 12 milhões do governo Lula em contratos intermediados por agências de publicidade desde 2024. Tudo coincidência, como alegou Lula quando foi condenado por ocultação de bens, como o sítio de Atibaia e o Triplex do Guarujá.
O fluxo financeiro da Secom levanta suspeitas de conflito de interesses e encobre um arranjo societário incomum em pleno centro do poder, com potencial questionamento legal e ético.
As ligações de Lula, Sidônio e Macaco Gordo
A proximidade política e empresarial entre Lula, Sidônio Palmeira e Chico Kertész sustenta um enredo clássico de portas giratórias. Kertész é dono da Macaco Gordo Publicidade e Serviços e sócio de Sidônio na Nordx (ex-M4 Comunicação e Propaganda), esta responsável pelo marketing eleitoral de Lula em 2022 e, hoje, prestadora do diretório nacional do PT. Muito parecido com esquemas que a Lava Jato descobriu antes de ser destruída pelo STF.
Após a última eleição de Lula e trocas na Secom, Sidônio se tornou ministro, declarando-se afastado da gestão de suas empresas, mas permanecendo formalmente no quadro societário.
Em 2025, já sob comando de Sidônio em Brasília, Kertész multiplicou sua presença no Palácio do Planalto, com ao menos 13 visitas oficiais para reuniões registradas como “encontros pessoais” com Sidônio. Nesse período, a Macaco Gordo foi a produtora que mais recebeu recursos da Caixa Econômica Federal — sozinha, ficou com 20% do bolo destinado a produtoras audiovisuais daquele banco estatal em 2025 (R$ 4,3 milhões).
Outros grandes contratos vieram de campanhas para a Embratur, como “afroturismo” e “realidade virtual Sebrae”, além de peças da Mega da Virada e do programa “Tudo em Dia Caixa”.
O caminho do dinheiro: contratos e intermediações
Os pagamentos à Macaco Gordo não são feitos diretamente pelo governo federal, mas por agências de publicidade contratadas pelas estatais (Binder, Calia e Propeg), que subcontratam a produtora para entregar as peças.
Apesar de legalmente previsto, esse modelo terceirizado dificulta o rastreamento e esconde a real influência política sobre a escolha dos fornecedores.
Todos os maiores valores repassados ocorreram já no novo governo Lula, com contratos de 2024 a 2025 segundo registros da Lei de Acesso à Informação.
Potenciais violações da lei e zonas cinzentas éticas
Pela legislação atual, ministros devem se afastar da gestão de empresas privadas — Sidônio o fez formalmente. Mas a permanência no quadro societário, somada às reiteradas reuniões com Kertész, cria um ambiente propício ao questionamento legal sobre tráfico de influência, violação dos princípios constitucionais da moralidade e impessoalidade (art. 37 da Constituição Federal), e conflito de interesses (Lei 12.813/2013).
Embora o ministro afirme não interferir diretamente nos contratos, a estrutura societária e o contexto dos pagamentos colocam sob suspeita a transparência e a equidade nos processos de contratação do Estado brasileiro.
Entre o legal e o legítimo
O caso expõe as fragilidades dos controles institucionais sobre o cruzamento de interesses entre agentes públicos e contratos milionários de publicidade em governos federais.
Mesmo que não haja prova de ilegalidade formal, a proximidade e a recorrência comercial sugerem, sob a ótica crítica, um método sofisticado de captura de recursos por núcleos ligados ao poder político, desafiando o verdadeiro espírito da lei e o compromisso com a coisa pública.



